domingo, 25 de dezembro de 2022

O poderoso significado de um acessório

Impulsionada pela sôfrega e curiosa vida 'rebelde' do casal mais descolado da realeza, assisti à série Harry & Meghan, da Netflix. Minha impressão sobre a biografia não vem ao caso aqui, no entanto um fato na trama, ou no drama dos dois pombinhos, me chamou a atenção. Um almoço em família para alguns parentes mais próximos dentre eles, um primo da Rainha Elizabeth II e sua esposa, a princesa de Michael of Kent foi oferecido pela realeza, em 2017. O ocorrido deu o que falar por causa de uma infeliz escolha da tal esposa do primo, que usou um broche configurando o rosto de um negro adornado por pedras preciosas. Se a intenção era "lacrar", como dizem por aí, deu certo, só que deu ruim. A dona do broche passou por uma 'saia justa' e teve de se desculpar publicamente pelo mal entendido, que ficou subentendido como racismo. 
"Menino com Brinco" (detalhe) 2022,  óleo sobre tela, Tarcísio Veloso
As obras de arte com imagens de negros expostas aos montes pelos cômodos dos palácios, geralmente são expressas como figuras exóticas ou simplesmente subalternas, confirmando a supremacia do Império Britânico sobre etnias africanas. Então poderíamos concluir que essa péssima escolha deve ter sido de caso muito bem pensado! O mal estar ganhou tom e foi um dos pontapés para o início de um conflito doméstico e diplomático.

Homenagem de Beyoncé e Jay-Z à Meghan Markle, em 2019

Não é de hoje que uma peça, digo, um acessório é capaz de emitir um pensamento, uma ideia, uma ideologia. Coroas, broches, brincos, pulseiras, colares e principalmente anéis são ferramentas de discursos visuais, crítica política ou status social.

O talentoso diretor de criação da grife Elsa Schiaparelli, o norte-americano Daniel Roseberry definiu, em vésperas de pandemia, a ideia do design da coleção para o fim do mundo. Comungando com as ideias da estilista italiana, que declarou durante a Segunda Guerra Mundial: "em tempos difíceis a moda sempre é ultrajante" era constantemente vista com um broche de pássaro, a Fênix, capaz de queimar e ressurgir das cinzas. Roseberry fez um compromisso de atender às obsessões surrealistas da fundadora da marca, mas ressalta a criação final à sua maneira. O brilho, os exageros, a excessiva feminilidade nos contornos sensuais ou sexuais e a criação de incansáveis alegorias ao corpo traduzem o momento atual da sociedade. Um tanto ousado, estranho, transfigurado, transformado, transtornado, mas ainda pulsante, brilhante e vívido é o  glamour  da alta-costura da referencia mor de Salvador Dalí na moda.  Um exemplo deste contraponto foi o exuberante broche da Pomba da Paz, adornando a cantora Lady Gaga, convidada de honra para tomada de posse do presidente Joe Biden. A cantora confessou, em bastidores, que seu vestido deveria ser à prova de balas para a ocasião. 
Lady Gaga com broche da grife Schiaparelli, 2021

Também bebe desta fonte surreal, a designer brasileira Paola Vilas, que investiga obsessivamente as formas do corpo humano para transformá-las em verdadeiras obras de arte escultural na joalheria. Autentica e fiel à sua pesquisa, a designer atrai um público seleto, que prioriza a estética, a beleza, mas principalmente os mistérios e místicos contornos do corpo, de seus movimentos e posturas, de seus limites físicos e seus desafios. Percebemos nitidamente esta conexão entre a joia e seu usuário, pois a proposta da peça fala por si só. 
Abadiah Haich com pulseira e anel de Paola Vilas

Daí a cautela em nos adornarmos daquilo que somos e pensamos. 
Sabe aquela atriz da novela que faz o papel de vilã e você compra o mesmo brinco que ela estava usando, pois é! 
Um acessório tem um poderoso significado, por isso preste atenção no que você usa, cuidado com suas escolhas, você é livre para fazê-las, mas é escravo de suas consequências. 
Seja livre com consciência! Voe, viaje, valide boas ideias e viva em Paz!
Feliz Natal e Paz para 2023!
Anel e gargantilha "Divino Espírito Santo"