Joias, Champagne e Luxo para todos
JÓIAS,
CHAMPAGNE E LUXO PARA TODOS
O maior concurso de jóias do
mundo realizado pela AngloGold Ashanti
promoveu, em 2006, uma videoconferência com transmissão para mais de oito
capitais do país, onde estive presente,
em Brasília. A videoconferência foi ministrada por várias entidades, dentre
elas o presidente da mineradora e a dupla de designers brasileiros Humberto e
Fernando Campana. A palestra se deu entre imagens avassaladoras do Brasil como o
Carnaval, as favelas, os aterros sanitários, o artesanato popular e os camelódromos, as praias e as mulheres, a biodiversidade e finalmente as
contradições sociais de um país tão grande e diversificado. O objetivo foi
instigar o grupo de ouvintes a uma investigação minuciosa de nossas origens e a
capacidade de organização das imagens e idéias à pesquisa do produto final,
isto é a jóia conceitual. Este foi meu primeiro encontro indireto com a dupla,
que esplendorosamente nos deixou uma mensagem muito sincera, o inusitado se
encontra nas coisas mais simples.
No
ano de 2010 finalmente os conheci pessoalmente no lançamento do livro Complete Works Campana Brothers (so far),
numa loja de decorações em Goiânia. A mostra de design trouxe alguns dos
mobiliários da dupla, como a linha de cadeiras Sushi e, claro a presença dos designers para a noite de autógrafos.
Simpáticos e pacientes, Fernando e Humberto curtiram a tietagem goiana e nos
contemplaram num encontro com a magnitude do design brasileiro que foi e é
reconhecido e premiado mundialmente. Desde o mais experiente profissional ao
mais curioso e inocente convidado, as formas, cores e materiais atraíram os
olhares e atenções, isso porque suas obras transcendem as fronteiras entre arte
e design. Eles ignoram todas as convenções do design tradicional, brincam com a
noção de funcionalidade e formam seus objetos poéticos a partir de realidades
contraditórias.
Humberto queria ser índio.
Fernando astronauta. Os irmãos faziam os próprios brinquedos desde crianças e a
infância no campo foi determinante em seu trabalho. Conta Humberto, em
entrevista à Revista Casa Claudia
que, “... a gente queria fazer uma fusão entre caipira e urbano (...). Vivemos
num país naif, caótico, colorido e,
logo percebemos que teríamos que trabalhar com a imperfeição.”
Uma
dessas imperfeições foi parar no Hotel Du
Marc, na França. “La Gloriette”
dos Campana foi feita sob medida para
a Veuve Clicquot. Nos antigos
palácios europeus, desde o século XII e hoje, em espaços que possuem áreas para
jardinagem, a edificação gloriette (gloire do francês que significa pequeno
cômodo) é muito apreciada por moradores e visitantes. Situada em local alto de
destaque a obra é um misto de técnicas arrojadas e do romantismo do século XIX,
num moderno gazebo que simula o crescimento das vinhas. Sua cor faz alusão às
folhagens dos vinhedos e principalmente ao rótulo do champagne mais desejado do
mundo.
O luxo
de suas criações vai além do mobiliário. Os Campana em parceria com a joalheria
H.Stern criaram uma coleção
formidavelmente criativa e inusitada. Movimentos, articulações e originalidade
são um dos adjetivos das jóias que mais se parecem obras de arte. Inspirado nas
madeirites, nos papelões de embalagem, tubos plásticos, cordas, ralos, casulos
e texturas orgânicas a dupla nos surpreendem quando integra o rústico à técnica
da ourivesaria. Roberto Stern, em prefácio do catálogo Campana descreve: “São ousadas, uma ruptura com o tradicional e um
passo adiante em tudo que é feito atualmente em joalheria. O resultado foi
registrado neste catálogo pelo olho mágico do fotógrafo suíço Michel Comte.
Ninguém mais sensível do que ele, que divide seu tempo entre fotos de
celebridades e de guerras, para interpretar um trabalho nascido de contrastes.”
Mas não só os nobres têm acesso
aos produtos Campana. A marca Melissa
lançou uma linha de sapatilhas e bolsas assinadas pela dupla. Também foram
convidados pela grife francesa Lacoste
para inventar, brincar e adestrar seus lindos jacarezinhos. É verdade que
algumas peças tiveram edições super limitadas, contudo os designers também
formataram suas embalagens exclusivas, em palha e lona.
Em comemoração aos 150 anos do
Grupo Monte-Carlo SBM, a dupla abriu a mostra Dangerous Luxury que foi até o dia 20 de julho deste ano, no Salão
Sporting d’Hiver, em Mônaco, onde interrogou o público acerca do conceito do
luxo e sobre como um objeto popular ou do cotidiano pode se transformar em
objeto de luxo.
Simples
e sensíveis estes sonhadores transformam o lixo em luxo, o rústico em
sofisticado, o artesanal em larga escala. Adeptos à sustentabilidade e trabalhando
pela “humanização do design”, tem como prioridade o respeito ao meio ambiente e
a natureza. Carinhosamente relembram a infância na cidade de Brotas, em São
Paulo e guardam lembranças de histórias e feitos, como a primeira casa na
árvore. Enquanto Humberto cria seus objetos como um artesão e artista
autodidata, Fernando participa como um arquiteto experiente. Uma união perfeita
entre familiaridade e profissionalismo.
Um casamento que realmente nos enchem os olhos e a alma! Vida longa ao talento
desta dupla brasileira!
TATIANA POTRICH