Bahia de todos os dons
Bahia de todos os dons!
"Não existe tela branca nos
trópicos. É como se tudo fosse atravessado pela cor."
A frase é do artista paulista Luiz
Zerbini, em entrevista à Folha de SP ," que viu isso com clareza numa
viagem com as filhas para o sul da Bahia. Sua idéia era criar ali um diário do
que acontecia, mas ficou tão estarrecido ao ver os tons da paisagem e dos
bichos, que nada escreveu."
O deslumbramento de Zerbini faz jus
à região. Um lugar esculpido pela natureza e nos presenteado como uma obra de
arte viva e pulsante. Foi berço caloroso para diversas manifestações populares dentre
elas a capoeira, o afoxé, o acarajé e o candomblé.
Nos
dons das palavras são célebres poetas e escritores da literatura brasileira
Gregório de Mattos, Castro Alves e Jorge Amado.
Nos dons dos sons, a Bahia foi "progenitora"
do Tropicalismo, movimento cultural
que mais se intensificou na música reafirmando o talento dos jovens baianos
Gilberto Gil, Caetano Veloso e Tom Zé.
Nos dons das artes visuais foram
pioneiros na renovação das artes plásticas baiana os filhos de orixás e
desbravadores dos emblemas da religiosidade yorubá, Rubem Valentim, Mario Cravo
Júnior e Carlos Bastos. O artista baiano, Deoscóredes Maximiliano dos Santos, o Mestre Didi foi além da bidimensão
e convenções estruturais. Concebeu esculturas-objetos ou artefatos de adoração
num entrelaçado de varas de bambu ornamentados com búzios e outros aviamentos
da brasilidade. Talvez, por uma ironia do destino, foi pelos tons do artista argentino Hector
Julio Páride Bernabó, apelidado como Carybé (do tupi, pequeno peixe amazônico)
que mais se difundiu visualmente a cultura baiana, no Brasil e no exterior.
Carybé dedicou toda sua produção artística nos temas da baianidade e recebeu
título de Doutor Causa Honoris pela
Universidade Federal da Bahia. Me foi dito ainda, pelos arredores do MAM/BA, em
Salvador, que o concederam a cidadania baiana em gratidão à sua incansável
pesquisa cultural. O contemporâneo, Marepe, Marcos Reis Peixoto desenvolve sua
pesquisa no mote dos objetos do cotidiano e, a relevância de sua obra é tanta,
que o Instituto Inhotim abriga em seu acervo pelo menos cinco delas.
Descrever toda essa energia de dons da terra da alegria é
um desafio, mas a Bahia deu sua graça na presença feminina e caracterizou a cultura
do país no estrangeiro. A pequena
notável, Carmem Miranda com sua euforia contagiante, seus exagerados adornos,
fitas, laços, frutas e toda sorte de apetrechos encantou, cantou e contou pro
mundo "o que é que a baiana tem."
Cito também, por conhecimento
pessoal, a fantástica companhia de dança contemporânea baiana, a Dance Brazil Foundation. Encabeçada por Jelon Vieira, as coreografias interagem
balé clássico, movimentos da capoeira e danças folclóricas, no entanto
restringem suas apresentações à Salvador e Nova Iorque.
Encontramos mais arte e talento nos roteiros dos longas, Cidade Baixa e Ó, Pai, Ó!, estreados pelos baianos Wagner Moura e Lázaro Ramos, onde
a realidade brasileira demonstrada é ora atônita e cruel, ora bela e feliz.
Assim
vem se formando um povo de muitos dons inspirados pela natureza e guiados pela
fé. Axé, Oxalá, Saravá!
TATIANA POTRICH