Valor Cultural
Foi aos 7 anos de idade que Hans
Stern começou a freqüentar o atelier do paisagista Roberto Burle Marx, no Rio
de Janeiro, início da década de 1940. Vindo fugidos da guerra na Alemanha, ele
e sua família se instalaram no berço esplêndido do país tropical e absorveram
em primeira mão as maravilhas, os desgostos, sucessos e fracassos deste
constante vai e vem da vida, como assim o é nas ondas do mar. Essa brasilidade tocante despertou no
pequeno Hans o desejo pelas "coisas" de tal território, suas cores,
diversidades, seus brilhos, enfim, suas pedras preciosas.
Passados mais de meio século, seu
primeiro filho, Roberto Stern também despertara acerca das riquezas naturais do
país do Carnaval, no entanto confessa que deixou de priorizar as pedras
preciosas para valorizar o design das jóias. Essa sacada inspirou o jovem Stern
numa estratégia ousada, corajosa e arrojada.
Ele agregou às jóias da marca o status cultural elegendo o conceito e o
design da peça antes do "academicismo" da joalheria clássica e o
exagerado espaço ocupado pelas pedras. A começar pelo diário de bordo do
fotógrafo escocês, radicado em NY, Albert Watson, que assina as belas imagens
no catálogo de jóias de 1998. O catálogo é um misto de arte, fotografia,
arqueologia e descrições reflexivas, documentadas provavelmente por um
cientista social. Suas invenções cenográficas nos levam a crer que uma antiga
civilização já cultuava a estética e o design como qualidade de vida, adornados
com pinturas corporal, borboletas, lama, fibras naturais e ouro.
A via crucis da ruptura com as convenções da joalheria clássica não
parou por aí. Os Stern's abrangeram tematicamente todas as áreas das artes ,
como no catálogo Orbis Descriptio,
com marcas da cartografia cravadas no metal precioso, assinado pela artista
plástica Anna Bella Geiger, ou na moda onde nomes da alta feminidade brilham como
Constanza Pascolato e Diane Von Furstenberg, ou ainda no contraste étnico da
música urbana de Carlinhos Brown, ou em mais contrastes como no design simples
e sofisticado dos Irmão Campana, também nos movimentos da companhia de dança
mineira O Corpo e por fim nas curvas arquitetônicas de Oscar Niemeyer.
A H.Stern ousou sem abusar, criou
peças com uma sutil delicadeza, respeitando ao máximo as características de cada
personalidade, desenvolvendo coleções ultrajantes que põe em xeque os valores
reais de uma jóia de design ou de arte. Esse diferencial unânime nas jóias da
marca ressalta o valor cultural agregado ao valor de mercado através de peças
assinadas por quem tem algo a dizer ou a mostrar.
"A
razão é inimiga da imaginação"( Oscar Niemeyer)