domingo, 3 de março de 2024

A origem do dragão

Na astrologia chinesa, o ano lunar de 2024 é considerado o Ano do Dragão. Assim como no horóscopo zodíaco, o horóscopo chinês é regido por 12 signos simbolizados por animais da cultura chinesa. Até a semana passada poderíamos considerar o dragão um estranho bicho que perambulava pelas fábulas, lendas e histórias de princesas, no entanto, uma descoberta recente de paleontólogos complementou a pesquisa sobre a existência dele no período Triássico, cujas características, que pareciam ser de um inconsciente coletivo distante, se tornaram realidade.
As primeiras representações de dragões provêm da China e datam de mais 6.000 anos. Foram descobertos em objetos cerâmicos e pequenos amuletos de jade. Em razão de seu porte e estatura, o dragão dividiu opiniões, ora sendo um leal guardião de tesouros e impérios, ora devastando povoados com sua brasa escaldante. 
A exemplo da literatura cristã, a duvidosa lenda de São Jorge da Capadócia contra o Dragão distorce 'arquétipos' e encobrem uma interpretação que fica entrelinhas. Conta a lenda que sua mãe, nascida na Palestina, educou o filho na fé cristã. Jorge entrou para a carreira das armas e então, ganhou o título de 'santo militar', um santo padroeiro. Também é considerado um modelo 'virgem' masculino, o que é um tanto controverso, por isso para vincularem sua imagem ao homem másculo e guerreiro, tiveram de inventar um 'inimigo' implacável, que o transformasse num grande mártir cristão.
Há uma sátira contemporânea que sintetiza esse tipo de fábula infantil: "E finalmente, o príncipe chegou ao castelo com sua poderosa espada, mas foi a princesa quem salvou o dragão". A animação "Shrek" (2011) aborda muitas outras sátiras aos contos infantis, inclusive criando o personagem do dragão com uma fêmea que se casa com um burro. 
A recém-lançada live action, da Netflix "Avatar, a lenda de Aang - o último mestre do ar" (2024), resgata o roteiro do mangá e da série do anime (2005) num compilado de episódios que discorrem sobre os mitos, arquétipos e aventuras oníricas no universo da filosofia oriental. Na mitologia chinesa, o Dragão simboliza abundância, sorte, prosperidade e fortuna. Ele é o mestre, a fonte do fogo, na nação dos Guerreiros do Sol. Ele não só domina a chama quente da paixão, como também a chama fria da consciência. Orientado, no mundo dos espíritos, pela figura do Dragão e guiado pelos seus profundos questionamentos, Aang, o avatar tem de enfrentar seus maiores desafios: o medo e as decisões entre o que escolher e o que renunciar.
A onipresença de seres e criaturas nas fantasias e ficções representam nossa necessidade em criar um mundo de imaginação e gostos em comum, onde o estranho, o exótico e o diferente ganham uma conotação afetiva, coletiva e convergente. Filmes como "Meu amigo Dragão"(2016),"Como treinar o seu Dragão 1, 2 e 3"(DreamWorks 2019) e a série "Príncipe Dragão" (Netflix 2018) são resultados de como esse estranhíssimo protagonista ganhou a simpatia de espectadores e de toda uma geração ocidental ainda um tanto alienada sobre os milhares de anos jurássicos e seus desdobramentos na mitologia oriental.
Sinais estelares indicam que a vida está em movimento, nada é estático, o mundo gira assim como as convicções engessadas, mal traduzidas e equivocadamente interpretadas.
Antes do Dragão ser morto por São Jorge, ele já era um mito importante nas celebrações e rituais chineses e sempre foi símbolo da imortalidade, da união dos contrários e do poder divino. Antes de Galileu ser obrigado a refutar suas teorias, ele comprovou que a Terra era redonda e que ela girava em torno do Sol. Antes de inventarem deuses transvestidos de humanos, os egípcios veneravam o Sol como uma entidade sagrada. 
Revisitar o passado e investigar as profundezas de nossas origens é um exercício de aprendizado para projetarmos prosperidade e lucidez ao futuro, nos orientando, sempre que possível, através da filosofia, da história, das descobertas científicas e da Natureza para enfim, compreendermos melhor nossos maiores desafios.
Ilustração do anime japonês,  "A viagem de Chirico" (2001)
Fóssil de Dragão chinês descoberto do período Triássico
Intervenção em mural de praça pública na cidade mística de São Jorge, Chapada dos Veadeiros
Fachada do Jardim Potrich por Morbeck e Larovisk com símbolos e elementos da astrologia oriental, astrologia ocidental e bioma brasileiro inspirado na xilogravura

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1 Comentários:

Blogger Helena Vasconcelos disse...

Uma verdadeira aula sobre o dragão de São Jorge ! Você sempre nos brindando aos domingos com suas postagens. Parabéns querida !

3 de março de 2024 às 09:41  

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