sábado, 4 de abril de 2015

Capueira



A primeira coluna Art Et Cetera do ano 2015 vai para a: C A P O E I R A. Justifico:
Foi no dia 26 de novembro de 2014 (para quem ainda não soube), que a Unesco a reconheceu como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Também porque necessitava me manifestar a respeito do tema, mas ainda não havia chegado o merecido reconhecimento. E por fim, ninguém menos para ilustrar o sucinto texto como a foto do artista Miguel Rio Branco. A cena foi registrada em Salvador, no ano de 1989, na qual três corpos parecem desafiar a gravidade. (Imagem extraída da Coleção Folha Grandes Fotógrafos - BRASIL)
Rio Branco é um cidadão do mundo, nasceu na Espanha, mas se criou nos arredores europeus, nova-iorquinos e finalmente se estabeleceu no país verde-amarelo.  Com uma visão imparcial da cultura brasileira e sensibilidade fotográfica para registrar a realidade nua e crua, no entanto temperada à óleo de dendê e vatapá, o artista ultrapassa a barreira de ensaio etnológico para o verdadeiro estado visceral das "coisas". A começar por sua obra Blue Tango (1984), onde dois garotos demonstram o bailado brasileiro, a ginga de raiz africana e de nome indígena, numa fotomontagem de 20 imagens. Uma das definições sobre o título desta obra, como a do blog Kindred Subjects, sugere que as silhuetas dos dois capoeiras que, ora está em cima, ora em baixo, numa penumbra azulada, remeteriam os movimentos das ondas do mar, dada a longa viagem dos africanos até chegarem a terras brasileiras. E ainda o termo tango, que em sua época inicial era dançado apenas por homens.
Registrada ao longo dos tempos por inúmeros artistas estrangeiros e nacionais como Rugendas, Debret, Carlos Bastos, Carybé, Bruno Giorgi, Pierre Verger, Mario Cravo Filho, ZèCésar, André Cipriano e outros, a capoeira reconta visualmente a história brasileira através dos estilos artísticos os quais foi sendo expressada. No início eram as ilustrações, principalmente das missões científicas do século XIX, cujo o zoólogo alemão,  Johamm Baptist Spix, foi um dos integrantes e responsáveis pela identificação de mais de 3.400 espécies, onde uma delas é o conhecido pássaro uru, o odontophorus capueira spix. Depois veio a fotografia como recurso tecnológico mais definido, rápido e alternativo. Além das demais técnicas como gravura, escultura, pintura e instalação que fizeram parte do "roteiro" plástico desta manifestação cultural. Ícone da brasilidade e peça mestra na roda de capoeira, o berimbau foi tema da obra do artista mineiro Paulo Neflíndio, selecionado para o 3° Prêmio Flamboyant, em Goiânia,  no ano de 2003, com a obra Berimbau Digital. O curioso é que foi também em Goiânia, no ano de 1974, que faleceu o baiano, Mestre Bimba, criador e promotor da Capoeira Regional.
Sim, a capoeira é uma ave galiforme. Ela não voa tão alto, mas desafia a gravidade com elegância e fugacidade. Ela pode ser um cesto de taquara, pode ser um mato abandonado, pode ser um quilombola, pode ser um capão ou um capitão do mato, pode ser a tribo indígena uru ou urubu, pode ser tupi ou guarani, pode ser kimbundo, pode ser vissungo. Ela pode ser luta, dança, jogo, magia, arte, cultura brasileira.
"A capoeira é tudo que a boca come e tudo que o corpo dá", assim disse Pastinha!

Salve, camará!