O apogeu da luz
Teorias e hipóteses acerca da construção das pirâmides do Egito, até hoje, permanecem como um enigma indecifrável. Mas a certeza sobre a magnitude de sua engenharia e a imponência de sua dimensão são unanimidade. Curiosidades tais como a localização da maior delas, a Grande Pirâmide de Gizé, em estar exatamente no centro da Terra soa um tanto surpreendente, mas até o alinhamento dela com as outras duas menores, estão baseadas em estudos cosmológicos de que num dado período, preferencialmente o equinócio, seria possível observar que as sombras das três pirâmides se alinhavam ao longo dos dias como um relógio de Sol e também, suas posições estariam relacionadas com o cinturão da constelação de Órion. A crença no politeísmo era uma constante durante o áureo período dos faraós. O culto ao Deus Rá, o Deus do Sol, o maior astro dos céus, seria uma celebração à força maior da Natureza, do calor e da luz do dia. O ocultismo e outras linhas de estudos esotéricos levantam questões muito mais interessantes que nossa vã filosofia pode imaginar. Afinal, 4000 anos antes de Cristo é um longo distanciamento de tempo dos dogmas e conservadorimos que viriam a ser escritos como Testamentos e Ministérios de Deus, no culto somente à uma divindade, o monoteísmo cristão.
A finada Hipátia de Alexandria (360 d.C. - 415 d.C) que o diga. Primeira mulher a lecionar numa instituição acadêmica do conturbado Império Romano do século V, que apesar de não se opor ao Cristianismo incomodou o então Bispo Cirilo com suas filosofias e teorias científicas, que se apoiavam na ideia do planeta Terra ser esférico e as constelações servirem de guia na escuridão. Hipátia foi cruelmente assassinada, quando no mesmo período o que ainda restava do acervo da biblioteca que se encontrava no Serapeu de Alexandria, foi queimado na "fogueira". O curioso é que o termo Serapeu vem do templo dedicado ao sincrético heleno-egípcio Serápis, que combinava aspectos de Osíris (Deus dos Mortos) e Ápis (touro mitológico com triângulo na testa), numa forma humana mais aceita pelos gregos ptolemaicos de Alexandria. Para quem curte a sétima arte, o filme "Alexandria" (2009) conta a saga desta surpreendente polímata.
Há suspeitas de que condutas eclesiásticas equivocadas, ao longo dos séculos ocasionaram retrocessos nas sociedades mais avançadas "astravancando o pogresso com a iguinorânça". Um exemplar precioso para quem gosta do assunto é o romance "O Nome da Rosa", do escritor italiano Umberto Eco (1932-2016). Adaptado para cinema tendo como protagonista o percursor de 007, o ator Sean Connery (1930-2020) o enredo aborda uma possível causa do incêndio da biblioteca de um mosteiro italiano, no período Medieval. Uma história cheia de mistérios e semiótica, onde o significado da rosa pode ser muito mais profundo do que uma flor ou uma cor.
Este assunto todo foi para citar sobre uma lembrança que o "filósofo de auditório" e vaidoso (mas com toda razão), Leandro Karnal postou em suas redes sociais. No dia 22 de junho foi a data da segunda condenação de Galileu pelo Tribunal do Santo Ofício, em 1633. Há 388 anos atrás, o cientista italiano foi obrigado a desdizer tudo o que disse para a Inquisição da época. Karnal deixa na postagem outro precioso exemplar para uma urgente reflexão, "Galileu e os negadores da ciência" (2021), do astrofísico Mario Lívio.
Das pirâmides do Egito à atual realidade recito as palavras do cientista Stephen Hawking (1942-2018): "Devemos olhar mais para o céu e não para os pés", ou para o próprio umbigo, ou para as fakes do whatsapp, né! É certo que a Humanidade caminha em ciclos viciosos e atualmente vivenciamos gestores de instituições que estão condenando exemplares de bibliotecas com o mesmo discurso obscuro de séculos atrás.
Cuidemo-nos para não nos deixarmos levar pela escuridão e lembremo-nos de olhar todos os dias para encantadora luz do Sol, nosso astro maior e entender que sem esta luz nada sobrevive.
Luz para todos, literalmente!
Ilustra o texto Brinco Triâmide nas versões longo, para segundo furo e pingente.