O barro e o sopro da vida
A maior casa de leilões da atualidade, a Sotheby's anunciou a disponibilidade para lance do Joseon Dynasty Korean Moon Jar (1392 - 1910), cuja queima da argila branca sofreu uma pigmentação despropositada, caracterizando o aspecto do satélite da Terra no jarro redondo utilizado como recipiente de vinho e também para outros rituais. Avaliada em U$ 3 milhões (ou 15 milhões de reais) é estimado que o preço atinja valores superiores.
O tríptico Dropping a Han Dynasty Urn (1995) do artista chinês Ai Wei Wei acaba de ser vendido por 800 mil euros. A obra é o registro de três cenas fotográficas do artista largando a valiosa urna no chão como crítica aos atos de vandalismo na sequência da Revolução Cultural anunciada por Mao Tse Tung, em 1966.
É notório, na 35ª Bienal Internacional de São Paulo a ocupação de cerâmicas nas instalações de artistas predominantemente de povos originários. A matéria-prima do barro, tão antiga quanto seus relatos nas mitologias africanas, indígenas, greco-romanas, bíblicas e darwinianas ainda se destaca como protagonista na origem da humanidade:
"Tudo começou quando Prometeu esculpiu um homem de barro e Zeus (deus de todos os deuses), deu-lhe o sopro da vida".
Através do barro nasceram lendas, mitos, tragédias, "macunaímas", deuses esculpidos, utensílios, produtos industrializados, adereços de design e o conforto terapêutico do exercício de modelar expandindo um gigantesco mercado que angaria cada vez mais adeptos.
A magia do barro está, literalmente, na sua organicidade, sendo um material extraído da natureza sem adição de agrotóxicos, produtos químicos, fertilizantes, corantes ou conservantes. Ele é a mais pura e escancarada matéria da qual viemos: da lama, da gosma, da crosta, da camada mais inconscientemente familiar.
Presenciei, no mês passado, a aula aberta do artista marroquino M'barek Bouhchichi, no Atelier e Escola de Arte Sertão Negro, sobre a sua trajetória artística. O artista expõe na Bienal uma sequência de jarros de cerâmica com poemas cravados e contou, em Agosto um pouco sobre o seu processo de estudo, pesquisa e produção, cuja investigação dos materiais é baseada em experimentos e resgate, onde questiona hierarquias culturais e divisão estabelecida de trabalho e valor. A obra que ilustra este texto é Les Mains Noirs (1995), As Mãos Negras, a mão-de-obra negra, as mãos fechadas de centenas de trabalhadores esculpidas em cerâmica, fortalecendo o discurso contínuo das comunidades que ainda convivem com o abuso de poder.
O barro pode ser e se tornar muitas coisas: um objeto de uso cotidiano, uma biojoia, uma escultura, uma instalação ou um discurso crítico sobre a jornada da Humanidade. Salve a data e venha conhecer as infinitas possibilidades do barro no nosso Jardim!
Barro CO ntemporâneo
21 e 22 de setembro
das 17h00 às 21h00
Rua 12, nº 12 Jardim Goias
3 Comentários:
De onde viemos e para onde vamos, esse é o nosso planeta Terra. Nossa próxima meta, uma bela e cheia de arte casinha feita de barro, depois de uma volta enorme já há muitos que defendam que este é o melhor método de construção 🏡. 😁👍
Estou ansioso para conhecer essa exposição.
Uau, ansiosa pra conhecer já
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