domingo, 10 de setembro de 2023

O barro e o sopro da vida

 A maior casa de leilões da atualidade, a Sotheby's anunciou a disponibilidade para lance do Joseon Dynasty Korean Moon Jar (1392 - 1910), cuja  queima da argila branca sofreu uma pigmentação despropositada,  caracterizando o aspecto do satélite da Terra no jarro redondo utilizado como recipiente de vinho e também para outros rituais. Avaliada em U$ 3 milhões (ou 15 milhões de reais) é estimado que o preço atinja valores superiores.

O tríptico Dropping a Han Dynasty Urn (1995) do artista chinês Ai Wei Wei acaba de ser vendido por 800 mil euros. A obra é o registro de três cenas fotográficas do artista largando a valiosa urna no chão como crítica aos atos de vandalismo na sequência da Revolução Cultural anunciada por Mao Tse Tung, em 1966.

É notório, na 35ª Bienal Internacional de São Paulo a ocupação de cerâmicas nas instalações de artistas predominantemente de povos originários. A matéria-prima do barro, tão antiga quanto seus relatos nas mitologias africanas, indígenas, greco-romanas, bíblicas e darwinianas ainda se destaca como protagonista na origem da humanidade:

"Tudo começou quando Prometeu esculpiu um homem de barro e Zeus (deus de todos os deuses), deu-lhe o sopro da vida".

Através do barro nasceram lendas, mitos, tragédias, "macunaímas", deuses esculpidos, utensílios, produtos industrializados, adereços de design e o conforto terapêutico do exercício de modelar expandindo um gigantesco mercado que angaria cada vez mais adeptos.

A magia do barro está, literalmente, na sua organicidade, sendo um material extraído da natureza sem adição de agrotóxicos, produtos químicos, fertilizantes, corantes ou conservantes. Ele é a mais pura e escancarada matéria da qual viemos: da lama, da gosma, da crosta, da camada mais inconscientemente familiar.

Presenciei, no mês passado, a aula aberta do artista marroquino M'barek Bouhchichi,  no Atelier e Escola de Arte Sertão Negro, sobre a sua trajetória artística. O artista expõe na Bienal uma sequência de jarros de cerâmica com poemas cravados e contou, em Agosto um pouco sobre o seu processo de estudo, pesquisa e produção, cuja investigação dos materiais é baseada em experimentos e resgate, onde questiona hierarquias culturais e divisão estabelecida de trabalho e valor. A obra que ilustra este texto é Les Mains Noirs (1995), As Mãos Negras, a mão-de-obra negra, as mãos fechadas de centenas de trabalhadores esculpidas em cerâmica, fortalecendo o discurso contínuo das comunidades que ainda convivem com o abuso de poder.

O barro pode ser e se tornar muitas coisas: um objeto de uso cotidiano, uma biojoia, uma escultura, uma instalação ou um discurso crítico sobre a jornada da Humanidade. Salve a data e venha conhecer as infinitas possibilidades do barro no nosso Jardim!

Barro CO ntemporâneo

21 e 22 de setembro

das 17h00 às 21h00

Rua 12, nº 12 Jardim Goias 




3 Comentários:

Blogger Psyqueon disse...

De onde viemos e para onde vamos, esse é o nosso planeta Terra. Nossa próxima meta, uma bela e cheia de arte casinha feita de barro, depois de uma volta enorme já há muitos que defendam que este é o melhor método de construção 🏡. 😁👍

10 de setembro de 2023 às 07:30  
Anonymous Anônimo disse...

Estou ansioso para conhecer essa exposição.

10 de setembro de 2023 às 07:30  
Anonymous Anônimo disse...

Uau, ansiosa pra conhecer já

10 de setembro de 2023 às 07:44  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial