Capueira
A primeira
coluna Art Et Cetera do ano 2015 vai
para a: C A P O E I R A. Justifico:
Foi no dia 26 de
novembro de 2014 (para quem ainda não soube), que a Unesco a reconheceu como
Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Também porque necessitava me
manifestar a respeito do tema, mas ainda não havia chegado o merecido
reconhecimento. E por fim, ninguém menos para ilustrar o sucinto texto como a
foto do artista Miguel Rio Branco. A cena foi registrada em Salvador, no ano de
1989, na qual três corpos parecem desafiar a gravidade. (Imagem extraída da
Coleção Folha Grandes Fotógrafos - BRASIL)
Rio Branco é um
cidadão do mundo, nasceu na Espanha, mas se criou nos arredores europeus, nova-iorquinos
e finalmente se estabeleceu no país verde-amarelo. Com uma visão imparcial da cultura brasileira
e sensibilidade fotográfica para registrar a realidade nua e crua, no entanto
temperada à óleo de dendê e vatapá, o artista ultrapassa a barreira de ensaio
etnológico para o verdadeiro estado visceral das "coisas". A começar
por sua obra Blue Tango (1984), onde
dois garotos demonstram o bailado brasileiro, a ginga de raiz africana e de
nome indígena, numa fotomontagem de 20 imagens. Uma das definições sobre o
título desta obra, como a do blog Kindred
Subjects, sugere que as silhuetas dos dois capoeiras que, ora está em cima,
ora em baixo, numa penumbra azulada, remeteriam os movimentos das ondas do mar,
dada a longa viagem dos africanos até chegarem a terras brasileiras. E ainda o
termo tango, que em sua época inicial era dançado apenas por homens.
Registrada ao
longo dos tempos por inúmeros artistas estrangeiros e nacionais como Rugendas,
Debret, Carlos Bastos, Carybé, Bruno Giorgi, Pierre Verger, Mario Cravo Filho, ZèCésar,
André Cipriano e outros, a capoeira reconta visualmente a história brasileira
através dos estilos artísticos os quais foi sendo expressada. No início eram as
ilustrações, principalmente das missões científicas do século XIX, cujo o
zoólogo alemão, Johamm Baptist Spix, foi
um dos integrantes e responsáveis pela identificação de mais de 3.400 espécies,
onde uma delas é o conhecido pássaro uru,
o odontophorus capueira spix. Depois
veio a fotografia como recurso tecnológico mais definido, rápido e alternativo.
Além das demais técnicas como gravura, escultura, pintura e instalação que
fizeram parte do "roteiro" plástico desta manifestação cultural. Ícone
da brasilidade e peça mestra na roda de capoeira, o berimbau foi tema da obra
do artista mineiro Paulo Neflíndio, selecionado para o 3° Prêmio Flamboyant, em Goiânia,
no ano de 2003, com a obra Berimbau
Digital. O curioso é que foi também em Goiânia, no ano de 1974, que faleceu
o baiano, Mestre Bimba, criador e promotor da Capoeira Regional.
Sim, a capoeira
é uma ave galiforme. Ela não voa tão alto, mas desafia a gravidade com
elegância e fugacidade. Ela pode ser um cesto de taquara, pode ser um mato
abandonado, pode ser um quilombola, pode ser um capão ou um capitão do mato,
pode ser a tribo indígena uru ou urubu, pode ser tupi ou guarani, pode ser
kimbundo, pode ser vissungo. Ela pode ser luta, dança,
jogo, magia, arte, cultura brasileira.
"A capoeira
é tudo que a boca come e tudo que o corpo dá", assim disse Pastinha!
Salve, camará!
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