quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A fotografia na construção da imagem da nação

Expert em história da fotografia, o paulista Boris Kossoy é um pesquisador incansável e comprovou nos anos de 1976 a efetiva ocorrência de experiências fotográficas percussoras nas Américas, por Hercules Florence ( 1804 -1879), no Brasil e contemporâneas como as realizadas por Louis Jacques Daguerré (1781 - 1851), na França e por Willian Henry Talbot (1800 - 1877), na Inglaterra. Dentre um extenso currículo bibliográfico sobre o assunto Kossoy coordenou e concebeu, no ano de 2012, com direção da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz o livro Um olhar sobre o Brasil, A fotografia na construção da imagem da nação 1833 - 2003. Num minucioso estudo e curadoria de fotografias de 170 anos de Brasil, a dupla sintetiza momentos memoráveis com imagens arrebatadoras do nosso país. Descrevo aqui uma das reflexões do autor quanto às impressões da nossa baixo auto-estima e um ranço histórico deixado por nossos colonizadores:
                "É fundamental analisarmos criticamente os processos históricos de dentro para fora, estabelecendo assim os necessários contrapontos em relação à visões míopes  em relação às 'realidades tropicais', não raro preconceituosas comumente motivadas pela expectativa do exótico e, como parte do mesmo processo, pela ânsia de 'documentar' o exotismo nessas terras. Extremamente negativo foi o efeito do mencionado exotismo ter incorporado em si uma mentalidade racista algo que comprova pela representação do outro teatralizado pelos pincéis e lentes europeus."
                Kossoy conceitua seu projeto em duas partes: Regência e Segundo Reinado (1831-1889) e República (1889-2003), sendo esta subdividida em décadas de marcos históricos sócio-políticos e culturais. Dos fotógrafos de importância internacional e nacional que estão presentes no livro, cito aqui apenas alguns: Victor Frond, Albert Frisch, Marc Ferrez, Félix Nadar, Augusto Riedel, Vincenzo Pastore, Pierre Verger, Miguel do Rio Branco, Mario Cravo Neto, Orlando Brito, Sebastião Salgado, Araquém Alcântara, além do próprio Boris Kossoy. Seu critério de seleção passou por um crivo crítico sobre a formação da sociedade brasileira através da fotografia prevalecendo dezenas de imagens antigas produzidas em estúdio, algumas de importantes datas comemorativas, outras de manifestações políticas, assim como panorâmicas e paisagens urbanas ou naturais. Seu recorte temporal auxilia a nossa percepção sobre o início do progresso urbanístico do país aos contrastes étnicos, das intempéries políticas à retomada da luz.
                Sem dúvida, um livro de imagens para se pensar a história do Brasil, a nossa história, os nossos antepassados. É como abrir um álbum de família ou relembrar momentos homéricos da nossa infância, adolescência e, atualmente, da vida adulta. São imagens como a do piloto Ayrton Senna erguendo a taça no Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, em 1991, pelo fotógrafo Jorge Araújo, que ascende em nós a chama de uma auto-estima que quer brilhar. A Agência Autônoma de Filatelia e Numinástica do Governo de San Marino, na Itália lançou este ano, uma moeda especial de 5 euros com a imagem deste ícone mundial. Uma  homenagem européia aos 20 anos da morte do brasileiro.
                É, Boris, ainda temos muito o que construir nesta nossa nação!?

                 

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