A excelência em arte e paisagismo
O
palácio de Versalhes tem fama consolidada pela sua exuberante arquitetura e
decoração, como também pelo paisagismo e avançada engenharia hidráulica de suas
fontes e espelhos d’água. A devoção e ousadia dos “artistas-jardineiros”, como o
queridinho do rei Luiz XIV, André Le Nôtre (arquiteto, paisagista, urbanista e
colecionador de arte), que se dedicou durante anos, exclusivamente às podas e
sofisticação dos labirintos geométricos em uma incansável busca pela perfeição
obteve, ao longo dos tempos, grande sucesso e reconhecimento mundial. A herança
deste talento com a natureza é um legado francês transferido para o Festival
Internacional de Jardins, em Chaumont-sur-Loire, à 200 km de Paris. O castelo,
que foi antiga propriedade da Rainha Maria de Médicis e, atualmente nomeado
pela Unesco Patrimônio Mundial da Humanidade, desde 1992 é uma galeria à céu aberto e ainda abriga obras de arte de renomes
internacionais, no interior de seus cômodos. Dentre elas está "Momento
Fecundo", do brasileiro Henrique Oliveira.
Outra grande presença da arte contemporânea
internacional, no jardim do castelo francês é o artista italiano, Giuseppe
Penone, famoso por suas intervenções na paisagem e em ter seus trabalhos
transformados pela vegetação. Criou, para a comemoração dos 400 anos de Le
Nôtre, 23 esculturas que foram espalhadas nos jardins de Versalhes, ao longo do
eixo do Grande Canal. Penone também está
presente na maior galeria de arte à céu aberto da América Latina, o Instituto
Inhotim. Sua obra "Elevazione", parte da modelagem e conseguinte fundição em bronze de uma
castanheira centenária, à qual outras partes de árvore foram soldadas. A grande
árvore de metal está presa ao chão por pés de aço e, plantadas ao seu lado,
estão cinco outras árvores que, ao longo dos anos, irão crescer e se aproximar
da escultura, como se a sustentassem e criassem um espaço arquitetônico para
abrigá-la. Um diálogo constante de transformação entre arte e natureza.
Idealizado por Bernardo Paz e projetado
pelo paisagista Roberto Burle Marx, o Instituto
Inhotim é um verdadeiro parque botânico e artístico, com programas e
oficinas que beneficiam a pesquisa multidisciplinar entre música, dança, artes
plásticas, jardinagem, botânica, artes cênicas, agronomia e muito mais. Com
galerias de arte espalhadas pelos mais de 8 hectares de jardins, as esculturas
em madeiras ou bancos, do gaúcho Hugo
França são outro espetáculo à parte. Esculpidas a partir de resíduos
florestais, França cria verdadeiras obras de arte ou de design. Sim, elas servem
para um repouso! E ele ainda tem uma produção de móveis residenciais! Sorte
nossa!
O
fascínio que temos ao nos depararmos com a natureza em perfeita harmonia com a
criação artística, seja pelo paisagismo, seja pela intervenção de uma obra de
arte é simplesmente gratificante. A sensação é de estarmos num conto de fadas,
no país das maravilhas, na casa de Edward mãos de tesoura (como bem intitulou a
revista Casa Vogue, do mês
de setembro) é inspirador.
Neste
mesmo mês participei do Earq 2014, evento de arquitetura e design realizado no
Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiânia, que teve como objetivo um circuito
intenso de palestras. No último dia assisti à fala do paisagista Gilberto Elkis, que explanou em imagens
de alguns de seus trabalhos, a arte e a delícia de trabalhar diretamente com a
natureza. A ciência e a delicadeza de esculpir a planta, encaminhar o curso da
água e desenhar o caminho das pedras.
A
excelência de integrar a vegetação ideal para cada ambiente e realizar um sonho
verde no quintal, na varanda ou no “puxadinho” está no compromisso com a
dedicação, o respeito e o uso consciente dos recursos que a natureza oferece.
Os
jardins verticais ou de Monet, as
pontes sobre espelhos d'água, as quedas d’água ou fontes, as hortas mandalas, o
húmus, os cascalhos, seixos rolados, cascas de eucalipto, bambus, tocos,
tijolos, garrafas pets, britas, pneus, engradados, sapatos velhos, tudo são
recursos para se criar e imaginar um universo de verdes possibilidades. Os
artistas, designers, arquitetos, paisagistas, jardineiros também são
cientistas, médicos, curandeiros. Nada melhor para alma que ter um lugar de paz,
para ser feliz, para se sentir mais humano, mais natural, mais vivo!
Paisagismo
e arte juntos são imprescindíveis para um inesquecível casamento com a
natureza.
Faço
votos que se perpetuem!
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