quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A excelência em arte e paisagismo


                O palácio de Versalhes tem fama consolidada pela sua exuberante arquitetura e decoração, como também pelo paisagismo e avançada engenharia hidráulica de suas fontes e espelhos d’água. A devoção e ousadia dos “artistas-jardineiros”, como o queridinho do rei Luiz XIV, André Le Nôtre (arquiteto, paisagista, urbanista e colecionador de arte), que se dedicou durante anos, exclusivamente às podas e sofisticação dos labirintos geométricos em uma incansável busca pela perfeição obteve, ao longo dos tempos, grande sucesso e reconhecimento mundial. A herança deste talento com a natureza é um legado francês transferido para o Festival Internacional de Jardins, em Chaumont-sur-Loire, à 200 km de Paris. O castelo, que foi antiga propriedade da Rainha Maria de Médicis e, atualmente nomeado pela Unesco Patrimônio Mundial da Humanidade, desde 1992 é uma galeria  à céu aberto e ainda abriga obras de arte de renomes internacionais, no interior de seus cômodos. Dentre elas está "Momento Fecundo", do brasileiro Henrique Oliveira.
                Outra grande presença da arte contemporânea internacional, no jardim do castelo francês é o artista italiano, Giuseppe Penone, famoso por suas intervenções na paisagem e em ter seus trabalhos transformados pela vegetação. Criou, para a comemoração dos 400 anos de Le Nôtre, 23 esculturas que foram espalhadas nos jardins de Versalhes, ao longo do eixo do Grande Canal.  Penone também está presente na maior galeria de arte à céu aberto da América Latina, o Instituto Inhotim. Sua obra "Elevazione", parte da modelagem e conseguinte fundição em bronze de uma castanheira centenária, à qual outras partes de árvore foram soldadas. A grande árvore de metal está presa ao chão por pés de aço e, plantadas ao seu lado, estão cinco outras árvores que, ao longo dos anos, irão crescer e se aproximar da escultura, como se a sustentassem e criassem um espaço arquitetônico para abrigá-la. Um diálogo constante de transformação entre arte e natureza.
                Idealizado por Bernardo Paz e projetado pelo paisagista Roberto Burle Marx, o Instituto Inhotim é um verdadeiro parque botânico e artístico, com programas e oficinas que beneficiam a pesquisa multidisciplinar entre música, dança, artes plásticas, jardinagem, botânica, artes cênicas, agronomia e muito mais. Com galerias de arte espalhadas pelos mais de 8 hectares de jardins, as esculturas em madeiras ou bancos, do gaúcho Hugo França são outro espetáculo à parte. Esculpidas a partir de resíduos florestais, França cria verdadeiras obras de arte ou de design. Sim, elas servem para um repouso! E ele ainda tem uma produção de móveis residenciais! Sorte nossa!
                O fascínio que temos ao nos depararmos com a natureza em perfeita harmonia com a criação artística, seja pelo paisagismo, seja pela intervenção de uma obra de arte é simplesmente gratificante. A sensação é de estarmos num conto de fadas, no país das maravilhas, na casa de Edward mãos de tesoura (como bem intitulou a revista Casa Vogue, do mês de setembro) é inspirador.
                Neste mesmo mês participei do Earq 2014, evento de arquitetura e design realizado no Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiânia, que teve como objetivo um circuito intenso de palestras. No último dia assisti à fala do paisagista Gilberto Elkis, que explanou em imagens de alguns de seus trabalhos, a arte e a delícia de trabalhar diretamente com a natureza. A ciência e a delicadeza de esculpir a planta, encaminhar o curso da água e desenhar o caminho das pedras.
                A excelência de integrar a vegetação ideal para cada ambiente e realizar um sonho verde no quintal, na varanda ou no “puxadinho” está no compromisso com a dedicação, o respeito e o uso consciente dos recursos que a natureza oferece.
                Os jardins verticais ou de Monet, as pontes sobre espelhos d'água, as quedas d’água ou fontes, as hortas mandalas, o húmus, os cascalhos, seixos rolados, cascas de eucalipto, bambus, tocos, tijolos, garrafas pets, britas, pneus, engradados, sapatos velhos, tudo são recursos para se criar e imaginar um universo de verdes possibilidades. Os artistas, designers, arquitetos, paisagistas, jardineiros também são cientistas, médicos, curandeiros. Nada melhor para alma que ter um lugar de paz, para ser feliz, para se sentir mais humano, mais natural, mais vivo!
                Paisagismo e arte juntos são imprescindíveis para um inesquecível casamento com a natureza.

                Faço votos que se perpetuem!

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial