A fotografia na construção da imagem da nação
Expert em história da fotografia, o paulista Boris Kossoy é um
pesquisador incansável e comprovou nos anos de 1976 a efetiva ocorrência de
experiências fotográficas percussoras nas Américas, por Hercules Florence (
1804 -1879), no Brasil e contemporâneas como as realizadas por Louis Jacques
Daguerré (1781 - 1851), na França e por Willian Henry Talbot (1800 - 1877), na
Inglaterra. Dentre um extenso currículo bibliográfico sobre o assunto Kossoy
coordenou e concebeu, no ano de 2012, com direção da antropóloga Lilia Moritz
Schwarcz o livro Um olhar sobre o Brasil,
A fotografia na construção da imagem da nação 1833 - 2003. Num minucioso
estudo e curadoria de fotografias de 170 anos de Brasil, a dupla sintetiza momentos
memoráveis com imagens arrebatadoras do nosso país. Descrevo aqui uma das
reflexões do autor quanto às impressões da nossa baixo auto-estima e um ranço
histórico deixado por nossos colonizadores:
"É fundamental analisarmos criticamente
os processos históricos de dentro para fora, estabelecendo assim os necessários
contrapontos em relação à visões míopes
em relação às 'realidades tropicais', não raro preconceituosas comumente
motivadas pela expectativa do exótico e, como parte do mesmo processo, pela
ânsia de 'documentar' o exotismo nessas terras. Extremamente negativo foi o
efeito do mencionado exotismo ter incorporado em si uma mentalidade racista
algo que comprova pela representação do outro teatralizado pelos pincéis e
lentes europeus."
Kossoy
conceitua seu projeto em duas partes: Regência
e Segundo Reinado (1831-1889) e
República (1889-2003), sendo esta subdividida em décadas de marcos
históricos sócio-políticos e culturais. Dos fotógrafos de importância
internacional e nacional que estão presentes no livro, cito aqui apenas alguns:
Victor Frond, Albert Frisch, Marc Ferrez, Félix Nadar, Augusto Riedel, Vincenzo
Pastore, Pierre Verger, Miguel do Rio Branco, Mario Cravo Neto, Orlando Brito,
Sebastião Salgado, Araquém Alcântara, além do próprio Boris Kossoy. Seu
critério de seleção passou por um crivo crítico sobre a formação da sociedade
brasileira através da fotografia prevalecendo dezenas de imagens antigas
produzidas em estúdio, algumas de importantes datas comemorativas, outras de manifestações
políticas, assim como panorâmicas e paisagens urbanas ou naturais. Seu recorte
temporal auxilia a nossa percepção sobre o início do progresso urbanístico do
país aos contrastes étnicos, das intempéries políticas à retomada da luz.
Sem
dúvida, um livro de imagens para se pensar a história do Brasil, a nossa história,
os nossos antepassados. É como abrir um álbum de família ou relembrar momentos
homéricos da nossa infância, adolescência e, atualmente, da vida adulta. São
imagens como a do piloto Ayrton Senna erguendo a taça no Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, em 1991, pelo fotógrafo Jorge
Araújo, que ascende em nós a chama de uma auto-estima que quer brilhar. A
Agência Autônoma de Filatelia e Numinástica do Governo de San Marino, na Itália
lançou este ano, uma moeda especial de 5 euros com a imagem deste ícone mundial.
Uma homenagem européia aos 20 anos da
morte do brasileiro.
É,
Boris, ainda temos muito o que construir nesta nossa nação!?