Quem me dera ao menos uma vez...
“QUEM ME DERA,
AO MENOS UMA VEZ...”
A mostra “Amazônia Ciclos da
Modernidade”, com curadoria de Paulo Herkenhoff, em agosto de 2012, no CCBB de
Brasília, fez um recorte da história do Brasil sobre a região amazônica no
Modernismo. Levantou hipóteses de uma surpreendente cartografia do conhecimento
e da cultura visual brasileira a partir de especificidades, diferenças e
contradições no espaço e no tempo.
Aqui selecionei imagens do meu
arquivo pessoal, que se misturam entre passado e presente. Registros visuais
datados há quase 200 anos por estrangeiros recém-chegados ao Novo Continente,
pinturas do Romantismo e Modernismo e fotografias da contemporaneidade.
Da interpretação e detalhamento
nas obras destes cientistas da arte o relato visual foi se estabelecendo de
forma heróica e sensível. Histórias orais e temas do cotidiano tomaram forma e
cor a partir de expressões plásticas como Moema,
de Vitor Meireles, ou The Pira rucu,
de Franz Keller. A lenda da índia tupinambá que seguiu seu destino rumo ao
fundo do mar, morrendo por amor, ou o mito do boto, ou ainda a sereia Iara. O Romantismo teve grande
influência nas artes plásticas para o espírito nacionalista brasileiro,
valorizando suas raízes e enaltecendo as conquistas da pátria.
O marco da identidade da cultura
nacional se deu na Semana de Arte de 1922, em comemoração ao Centenário da
Independência. O Movimento Modernista entra pela porta da frente no país e os
artistas iniciam uma jornada mundial difundindo a formação de uma nova etnia.
As referências nacionalistas nas obras brasileiras eram retratos de mestiços,
operários e ainda antropófagos, onde o Abaporu
(1928), de Tarsila do Amaral, se tornaria ícone do movimento artístico no
país.
Com novos recursos da tecnologia,
a arte contemporânea ganha novos aliados, a fotografia e a multidisciplinaridade.
O jornalismo tem como base estrutural a fotografia in loco, que registra o momento, a notícia e o realismo
incondicional. A tecnologia das máquinas fotográficas torna se indispensável a
este profissional, que se destaca pela criatividade, percepção e originalidade.
Sebastião Salgado é um, dentre vários jornalistas, que se ingressaram neste
universo subjetivo. Viajando mundo a fora, durante 8 anos, traz registros
preciosos de um universo paralelo existente nos mais inóspitos territórios do
planeta. A mostra e o livro Genesis é
a prova viva do seu deslumbramento com uma natureza pura e selvagem. Em
entrevista à Folha S.P., relata: “Estive com o grupo Zo’e, que foram contatados
há 15 anos e estão num estado de pureza total. Você vê o cara trabalhando numa
flecha (...). É exatamente a ciência do foguete(...)”.
Certa vez, o artista parisiense, Paul
Gauguin (França 1848 – Taiti 1903) desabafou: “Fugi de tudo que era artificial
e convencional. Aqui penetro a verdade, integro-me à natureza.” Segundo
Herkenhoff, o desafio mais urgente da “civilização brasileira” é a integração
das três ecologias: meio ambiente, relações sociais e subjetividade. Se em
contato direto com a natureza penetramos a verdade, está na hora de repensarmos
nossos conceitos de “civilização”. Ainda dá tempo! Acorda, Brasil!