A beleza da imperfeição
Prometi e, digo novamente, a mim mesma e aos meus amigos (e até a papai) que não me posicionaria mais sobre política. Este será um texto sensato, um unguento, uma pomada nas feridas abertas e cutucadas pelos discursos distópicos, distorcidos e dispensáveis que rolam soltos pelos cursores virtuais.
Possivelmente, um dos assuntos recentes mais distópicos foi a polêmica apresentação na abertura dos Jogos Olímpicos. Idealizada por Thomas Jolly, o responsável que 'lacrou', é um ator reconhecido e premiado diretor artístico francês. Contaminado pela moda e manada, Jolly fez a infeliz relação dos jogos olímpicos à histórica representação do Olimpo, apresentando uma farta mesa de comida e bebida, numa festa da tal 'diversidade', duvidosamente adequada para o evento, dadas circunstâncias diplomáticas e políticas (afinal, não há que se debater questões de gênero biológico, a escritora, estudiosa, matemática e jornalista irlandesa, Helen Joyce, que o diga).
A questão, enfim, que deveria ser relacionada e discutida seria a beleza da imperfeição humana. Somos falhos, individualistas e transitórios. Acreditamos em nossa única verdade e usamos, uns, os erros dos outros para nos sentirmos menos imperfeitos e efêmeros. Como dizia Marco Aurélio, em suas 'Meditações' : "Tenho em mim a rapidez com que as coisas - as de agora e as que virão - passam e se vão".
A arte naif, a arte não acadêmica é o mais imperfeito dos estilos. Ela é rústica, torta, sem regras, sem simetrias, sem cálculo, mas ainda sim é bela, é pura, é simples, é livre como uma criança. Ela traduz essa imperfeição humana com leveza, com verdade, com sensatez. Diminue a distância entre o requinte e o singelo, a pobreza e a riqueza, a ingenuidade e a malícia.
O naif integra uma parte íntima do nosso ser, da nossa memória afetiva, das reminiscências da infância.
Uma pena que tenhamos chegado tão longe em avanços tecnológicos, métodos científicos, cirurgias plásticas e insensatas mutilações prematuras para demonstrarmos apenas uma parte da superfície, que contradiz um todo maior que se encontra bem mais profundo.
Descobrir a simplicidade de quem se é, pode ser a forma mais verdadeira e digna de conviver com a imperfeição dentro de cada um de nós, porque somos todos belos e feios ao mesmo tempo.
"Última Ceia", por Helena Vasconcelos
1 Comentários:
Texto espetacular . Verdade o que você e Helen Joyce escreveram . O melhor mesmo é exatamente isso ,não precisamos explorar a diversidade p mostrarmos o nosso respeito . Foi um ato desnecessário a abertura das Olimpíadas.
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