domingo, 11 de agosto de 2024

A beleza da imperfeição

 Prometi e, digo novamente, a mim mesma e aos meus amigos (e até a papai) que não me posicionaria mais sobre política. Este será um texto sensato, um unguento, uma pomada nas feridas abertas e cutucadas pelos discursos distópicos, distorcidos e dispensáveis que rolam soltos pelos cursores virtuais. 

Possivelmente, um dos assuntos recentes mais distópicos foi a polêmica apresentação na abertura dos Jogos Olímpicos. Idealizada por Thomas Jolly, o responsável que 'lacrou', é um ator reconhecido e premiado diretor artístico francês. Contaminado pela moda e manada, Jolly fez a infeliz relação dos jogos olímpicos à histórica representação do Olimpo, apresentando uma farta mesa de comida e bebida, numa festa da tal 'diversidade', duvidosamente adequada para o evento, dadas circunstâncias diplomáticas e políticas (afinal, não há que se debater questões de gênero biológico, a escritora, estudiosa, matemática e jornalista irlandesa, Helen Joyce, que o diga).

A questão, enfim, que deveria ser relacionada e discutida seria a beleza da imperfeição humana. Somos falhos, individualistas e transitórios. Acreditamos em nossa única verdade e usamos, uns, os erros dos outros para nos sentirmos menos imperfeitos e efêmeros. Como dizia Marco Aurélio, em suas 'Meditações' : "Tenho em mim a rapidez com que as coisas - as de agora e as que virão - passam e se vão".

A arte naif, a arte não acadêmica é o mais imperfeito dos estilos. Ela é rústica, torta, sem regras, sem simetrias, sem cálculo, mas ainda sim é bela, é pura, é simples, é livre como uma criança. Ela traduz essa imperfeição humana com leveza, com verdade, com sensatez. Diminue a distância entre o requinte e o singelo, a pobreza e a riqueza, a ingenuidade e a malícia.

O naif integra uma parte íntima do nosso ser, da nossa memória afetiva, das reminiscências da infância. 

Uma pena que tenhamos chegado tão longe em avanços tecnológicos, métodos científicos, cirurgias plásticas e insensatas mutilações prematuras para demonstrarmos apenas uma parte da superfície, que contradiz um todo maior que se encontra bem mais profundo.

Descobrir a simplicidade de quem se é, pode ser a forma mais verdadeira e digna de conviver com a imperfeição dentro de cada um de nós, porque somos todos belos e feios ao mesmo tempo.

"Última Ceia", por Helena Vasconcelos

"Colheita do algodão", pintura em pote de cerâmica por Helena Vasconcelos que será mostrado na 2ª Edição do Barro Contemporâneo, em Setembro




1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Texto espetacular . Verdade o que você e Helen Joyce escreveram . O melhor mesmo é exatamente isso ,não precisamos explorar a diversidade p mostrarmos o nosso respeito . Foi um ato desnecessário a abertura das Olimpíadas.

11 de agosto de 2024 às 09:25  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial