domingo, 14 de julho de 2024

Relatos cinematográficos de um retiro feminino

Foi a segunda vez que vivenciei o retiro de yoga ancestral promovido e pensado cuidadosamente por minha professora Daniela do Valle de Carvalho. Foram quatro dias intensos de autoconhecimento, trocas, relatos, confidências e terapias coletivas ao lado de mulheres lindas e diversas, mas únicas entre si. Práticas de surya e chandra namaskar, asanas, pranayamas, kundalini, sauna finlandesa, ritual do cacau, palestra sobre psicanálise, comida vegana, água da fonte, conexão direta com a Natureza e Cosmos. Foi potente!

Resgatar nossas memórias e ativar a energia vital do nosso corpo através da sexualidade é o tipo de exercício que não paramos para fazer no dia a dia.

Entendemos que esconder os tabus e traumas que nos afetam torna-se um fardo quando não os transformamos em força para seguir em frente, sejam eles os assédios, abusos, abortos, abandonos, adoção, traição, conflitos de maturidade, de maternidade e de matrimônio.

Como mulheres entonamos juntas a energia do baixo ventre e reverenciamos com muito amor este chakra de vida e luz, passado e presente.

De fato, todas as experiências vivenciadas no retiro aguçou minha seleção cinematográfica para ilustrar este texto e a importância de protagonizar o ventre e sua capacidade de pulsar, sentir, agir e reagir ao meio.

Versões incertas sobre este órgão tão íntimo e feminino foram descritas ao longo da história por personagens que nada dele entendem. Livros controversos como "Lolita" (1955), com adaptações para o cinema de 1962 e 1997 e até uma minissérie brasileira em 2001 deram alusão a um narrador leviano e velho, que descreve seu ponto de vista sobre estar apaixonado por uma garota de 12 anos. A análise do livro através da cena do comovente filme "Capitão Fantástico" (2016) é de uma franqueza e compaixão à perversidade humana: "ao mesmo tempo que senti ódio pelo personagem, fiquei muito triste por ele".

Outra boa história para ilustrar nosso ventre querido expõe o reverso de Lolita, inspirado em fatos reais e também adaptado para a sétima arte. O caso polêmico de uma professora de ensino fundamental que assediou um aluno de 13 anos. "Segredos de um escândalo" (2023) revela a relação de pedofilia de uma mulher casada e 22 anos mais velha que seu amante. No filme há suspeita (ou hipótese) de que a pedófila poderia ter sido abusada na infância por um parente e como consequência apresentar sinais subliminares de uma pessoa boderline. Não por acaso a última frase da personagem é: "Pessoas inseguras são muito perigosas". Eu fiquei com ódio e triste por ela também.

Mais recente e também polêmico foi o filme "Pobres Criaturas" (2024), um reverso do icônico "Frankenstein", reproduzido em inúmeras versões para o cinema e curiosamente escrito por uma mulher, em 1803. A trágica história da criatura e seu criador aborda o monstruoso drama do conflito de um ser em busca de sua origem, de sua família e sua missão de vida. No entanto, em "Pobres Criaturas" o ponto de vista feminino, inusitadamente dirigido por um homem, tem um feitio um pouco menos bizarro e, para felicidade da mulherada, mais libertador. 

Conta a utópica história de uma grávida que suicidou e foi resgatada e recriada com o cérebro de seu filho a partir de um experimento científico e, que vai descobrindo ao longo de suas experiências sexuais, os seus limites, seu poder, suas dores e seus prazeres vitais. O filme confirma, mesmo sendo uma ficção, o quanto uma mulher que administra sua criança interior e está bem resolvida sexualmente é capaz de almejar e conquistar sua autonomia e independência econômica. O título "Pobres Criaturas" não se refere à protagonista, mas os humanos ao seu redor.

Foi imensamente transformador e desafiador vivenciar e selecionar estas películas para ilustrar só um pouquinho do que foi nosso retiro feminino ancestral.

Agradecer e viver na verdade de meu ventre é poder aprender a cultivar meu amor próprio. 

"Ventre à mim todos que tem sede de conhecimento" e segue o mantra: "Eu sou paz, eu sou amor, eu sou fé. Confio em mim"

Gratidão, teacher Lela!

A formosa Maria Eduarda sob as lentes da enérgica Júlia, mulheres lindas e diversas, mas únicas entre si

Shala para o retiro de yoga ancestral no Mariri Jungle Lodge


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