domingo, 7 de julho de 2024

Cinza Cinder Cinderela

 O livro colorido "A Psicologia das Cores", de Eva Heller conta a cinzenta historinha desta cor e nos informa que o cinza tem 65 tons e não 50, como iludidamente nos fez acreditar o sensual e polêmico blockbuster, "50 tons de cinza" e suas variantes. Curiosamente, a história da Gata Borralheira, ou a clássica Cinderela, também tem suas nuances nesta cor sem graça. Borralheira é a moça que trabalha no local onde se acumula a borralha, as cinzas do forno, logo cinder em inglês, na tradução para o português é cinza e Cinderela é a moça que veio do cinza. 

Estudos e refutações feministas a respeito deste conto de fadas são inúmeros e minha consideração a todes é sincera, mas aqui não vou passar a mão na cabeça de ninguém. Ser mulher é viver uma vida cinzenta, tediosa, antiquada e cruel. Ponto. 

Em alguns instantes de segundos, pode até aparecer, sim, uma fada madrinha, ou nosso alter ego se manifeste e demonstre algum amor próprio, se apressando em mandar fazer um vestido de festa, um penteado especial, se adornar de joias e pedras preciosas para uma inesquecível noite de gala (ou uma balada com match). Ponto.

Então essa mesma mulher, que tem que voltar para casa, para sua cozinha, para seu companheiro, para seus filhos tem que aprender a viver sua vida envolta de sua cinza e fiel borralha. Ah, mas ela tem dinheiro, tem empregada, tem babá. Sim, mas não. A realidade é cinza para todas e estaremos sempre nesta labuta, neste 'esfrega' e lava, neste suja e limpa, neste estado de cor e vida nebulosa.

O filme sobre os sadismos do Sr. Grey (grey do inglês, a tradução também é cinza) traz uma esperançosa ilusão sobre o matrimônio, assim como na história da Cinderela. Um bilionário aparece e é cativado pela bela e virgem universitária, mas ao contrário do conto de fadas, o filme tem um viés erótico, que até ganha pontos com o público adúltero 'ops', adulto, mas a dor e o sofrimento para alcançar o prazer do moço é que é um tanto cinzenta. O que, de certa forma, traduz mais a realidade dos casais que a lúdica moral da história dos contos infantis. Nada vem de graça. Ninguém renuncia de um borralho sem escolher ou se esbarrar noutro. 

A luta da vida está em limpá-lo todo santo dia, para que a borra não se espalhe e não grude para sempre. 

Assumir a porra 'ops', a borra e aceitá-la como condição inerente da vida é entender que o cinza faz parte da cartela de cores, faz parte e praticamente quase que toma conta de toda ela. O lado bom é que existem as outras cores, que podem vir como "fadas madrinhas", ou a festa colorida dos sonhos, ou o príncipe encantado e seus adornos dourados, ou a vida cor de rosa de  uma princesa que, de uma hora para outra, querendo ou não pode terminar em meio ao cinza escuro da noite.  E ponto. 

Inteligência Artificial simula retrato de Cinderela com 80 anos

Foto Adora Cinema






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