As raízes da fé brasileira
O Brasil tem um histórico peculiar com a religião. Uma relação de
berço esplêndido, um tanto miscigenado e carinhosamente aclamado por um
sincretismo alegórico, místico e quase profano. Desde crenças supersticiosas,
até procissões e romarias intermitentes, invocações em línguas arcaicas,
batuques de tambor, oferendas para o mar, presentes benzidos, jejuns,
propósitos e mais tantas penitências sagradas.
Esse calvário ou caldeirão espiritual foi motivo de registros
clássicos e até exóticos, de costumes e rituais desta nação mestiça em fulminante
formação.
O Barroco, estilo artístico que ganhou
força no Brasil no período colonial foi de suma importância visual para se compreender
a história e os desdobramentos culturais de nosso país. Envergado à temática
religiosa, o estilo artístico é dominante na arquitetura de igrejas e cidades
históricas brasileiras, assim como em imagens sacras que até o início do século
XVI, com a chegada dos jesuítas foram feitas a partir de referências europeias.
Um século adiante, um tanto mais “abrasileiradas”, as imagens foram se
adaptando às matérias-primas da colônia como a madeira nativa das regiões, a
pedra sabão e, finalmente, o Barro. Alguns historiadores defendem que a
utilização do barro em casas de adobe, confecção de utensílios e artefatos de
decoração tenham tido sua origem na cultura indígena, já que esta era a mais
genuína matéria-prima dos povos originários.
Santos e cenas bíblicas que ganharam
cor e adeptos, sejam pelas suas milagrosas histórias, sejam pelas suas nobres
causas como as Nossas Senhoras do Rosário e Aparecida, as santas negras
brasileiras, Nosso Senhor São Bento, protetor dos capoeiristas e contra picada
venenosa de cobra, o São Francisco, protetor dos animais, o Santo Antônio, o
casamenteiro e tantos outros controversos como São Jorge, São Sebastião e,
atualmente a canonização de Pade Padim Ciço, o Padre Cícero, de Juazeiro do
Norte (CE), figura ontológica, banida pela Igreja por ser venerado tanto pelos
coronéis da região, quanto pelo mais destemido dos cangaceiros, o icônico Lampião.
As raízes da fé brasileira se
equilibram entre o balanço dos galhos perniciosos da contravenção e a ternura do
sentimento da compaixão que nos distingue das máquinas e dos robôs e nos
assemelha ao equilíbrio pleno da Natureza.
Artistas e artesãos por todo país
desenvolvem pesquisas e trabalhos nesta temática envolvendo essa característica
singular na arte popular: o regionalismo. Tradição, resgate cultural, raízes
litúrgicas e ancestralidade são referências primordiais para nos auto afirmar
como uma nação.
Aqui tem muito cabra da peste para
contar história. Em setembro contaremos com mais uma edição do
BarroContemporâneo, com mostra de design e arte popular na cerâmica.
Barro +
Barroco + Contemporâneo = BarroCo = sufixo com, companhia, concomitante
Presépio
de cacto, Leonilson Arcanjo de Holanda Silva, Capela/Alagoas
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