domingo, 28 de julho de 2024

As raízes da fé brasileira


O Brasil tem um histórico peculiar com a religião. Uma relação de berço esplêndido, um tanto miscigenado e carinhosamente aclamado por um sincretismo alegórico, místico e quase profano. Desde crenças supersticiosas, até procissões e romarias intermitentes, invocações em línguas arcaicas, batuques de tambor, oferendas para o mar, presentes benzidos, jejuns, propósitos e mais tantas penitências sagradas.

Esse calvário ou caldeirão espiritual foi motivo de registros clássicos e até exóticos, de costumes e rituais desta nação mestiça em fulminante formação.

O Barroco, estilo artístico que ganhou força no Brasil no período colonial foi de suma importância visual para se compreender a história e os desdobramentos culturais de nosso país. Envergado à temática religiosa, o estilo artístico é dominante na arquitetura de igrejas e cidades históricas brasileiras, assim como em imagens sacras que até o início do século XVI, com a chegada dos jesuítas foram feitas a partir de referências europeias. Um século adiante, um tanto mais “abrasileiradas”, as imagens foram se adaptando às matérias-primas da colônia como a madeira nativa das regiões, a pedra sabão e, finalmente, o Barro. Alguns historiadores defendem que a utilização do barro em casas de adobe, confecção de utensílios e artefatos de decoração tenham tido sua origem na cultura indígena, já que esta era a mais genuína matéria-prima dos povos originários.

Santos e cenas bíblicas que ganharam cor e adeptos, sejam pelas suas milagrosas histórias, sejam pelas suas nobres causas como as Nossas Senhoras do Rosário e Aparecida, as santas negras brasileiras, Nosso Senhor São Bento, protetor dos capoeiristas e contra picada venenosa de cobra, o São Francisco, protetor dos animais, o Santo Antônio, o casamenteiro e tantos outros controversos como São Jorge, São Sebastião e, atualmente a canonização de Pade Padim Ciço, o Padre Cícero, de Juazeiro do Norte (CE), figura ontológica, banida pela Igreja por ser venerado tanto pelos coronéis da região, quanto pelo mais destemido dos cangaceiros, o icônico Lampião.

As raízes da fé brasileira se equilibram entre o balanço dos galhos perniciosos da contravenção e a ternura do sentimento da compaixão que nos distingue das máquinas e dos robôs e nos assemelha ao equilíbrio pleno da Natureza.

Artistas e artesãos por todo país desenvolvem pesquisas e trabalhos nesta temática envolvendo essa característica singular na arte popular: o regionalismo. Tradição, resgate cultural, raízes litúrgicas e ancestralidade são referências primordiais para nos auto afirmar como uma nação.

Aqui tem muito cabra da peste para contar história. Em setembro contaremos com mais uma edição do BarroContemporâneo, com mostra de design e arte popular na cerâmica.

Barro + Barroco + Contemporâneo = BarroCo = sufixo com, companhia, concomitante

Presépio de cacto, Leonilson Arcanjo de Holanda Silva, Capela/Alagoas

Coleção particular de Helena Vasconcelos




0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial