domingo, 3 de dezembro de 2023

Três coelhos

Indícios de que as primeiras religiões politeístas existiam há mais de 5 mil anos ainda é objeto de estudo para aficionados em História, Antropologia e Arqueologia. Hinduísmo, budismo, mitologias gregas, romanas, africanas, cristianismo, judaísmo, espiritismo, islamismo, toda procedência destes movimentos religiosos teve origem da necessidade de sobrevivência entre clãs que ultrapassavam a quantidade de 150 pessoas. Segundo o antropólogo israelense Yuval Harari, a religião é um modo eficiente de comungar milhares de pessoas ao mesmo tempo em prol de um ideal, as convencendo sobre mitos e histórias épicas contadas aos quatro cantos do mundo, que mantêm os membros do clã sob controle e disciplina. Dentre hábitos e ideologias interessantes das religiões, entendemos o quanto elas são necessárias e de certa forma muito eficientes.
Religiosos assíduos em seus rituais litúrgicos praticam o jejum, a abstinência, o ato de ajoelhar para rezar, dançam, cantam, interagem com o próximo com abraços, bênçãos e benzeções. No budismo, assim como o islamismo, judaísmo ou até mesmo os terreiros de candomblé e umbanda podemos presenciar um rito dificílimo de movimentos de braços e pernas, ora com danças extravagantes, aeróbicas, ou quase acrobáticas. O ato de ajoelhar para rezar, orar, entoar mantras, ou meditar, principalmente nas posturas do yoga, ajudam a articular a circulação do sangue no corpo, ativam propriedades musculares que não são exercitadas no dia a dia quando estamos sentados ou caminhando. Disciplinar o corpo e o espírito através das religiões é o elixir para os clãs atarefados demais em se debruçarem sobre estudos de História da Arte, Filosofia e Esportes afins. A religião bem praticada "mata dois coelhos numa cajadada", o exercício físico e o espiritual.
Embora a vida esteja estruturada na tríade: corpo, mente e espírito, ainda faltaria à religião o exercício da mente. Contar histórias, interpretar, ou traduzir livros sagrados é um exercício, mas não contempla a interdisciplinaridade. Não é à toa que ícones da Filosofia romperam amargamente com a religião. Alguns chegaram a declarar que "Deus está morto", ou que a "Arte matou Deus". Há de se levar em conta que alguns destes filósofos exercitavam suas mentes, mas talvez tenham se esquecido de exercitar seu físico ou seu espírito. Manter a tríade do conhecimento em pé não seria só para os letrados, acadêmicos ou catedráticos, mas aos mais sábios, os desapegados, os que renunciam, os que passam pelo inferno, ou os que são literalmente 'crucificados'. Estes sabem reconhecer, na organicidade da vida, o equilíbrio para se chegar aos Céus. 
Ninguém ensina mais que a Mãe Natureza, Gaia, Madre Prima. É Ela quem envia tempestades, que derrubam árvores em cima da gente e de nossos carros, Ela quem acorda vulcões adormecidos, terremotos e tsunamis. Ela quem nutre a terra e a nós, nos ensina sobre sua força e poder, põe à prova a força do nosso corpo, o equilíbrio da nossa mente e a nobreza de nosso espírito. Nos mostra a hierarquia da cadeia alimentar, as fases da Lua, as estações do ano, a seleção natural, a ferocidade dos fenômenos, os mistérios da noite e a clareza da luz.
Quem cuida das raízes de suas árvores, faz a poda de galhos secos, elimina as ervas daninhas, aduba o solo para que seus frutos cresçam com sementes fortes, consegue prevenir a queda e o estrago que uma tempestade pode fazer. Conviver em harmonia com os sinais da Natureza é um hábito diário de observação (corpo), resiliência (mente) e paz (espírito). 
Ela sim mata três coelhos numa cajadada só!

Detalhe da fachada por Morbeck e Larovisk. 
Sol, Lua e mente consciente 


 

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