Acabo
de assistir a série “Cangaço Novo” na Prime Video, ironicamente no feriado de
Nossa Senhora Aparecida e dia das crianças (quem assistiu entenderá). Com
direção de Fábio Mendonça e Aly Muritiba, a superprodução brasileira está pra
lá de Quentin Tarantino ou Glauber Rocha onde o sertão encontra com Hollywood no mesmo nível cinematográfico. Lampião deve tá dançando forró no céu (ou no
inferno) com essa homenagem arretada dos diabos. Impecável fotografia e atores
de tirar o folego, a química do elenco deu certo, deu certíssimo e feliz ou
infelizmente a gente acaba tomando partido de toda sanguinolência, seja na
ficção, seja baseada em fatos reais. É difícil ficar do lado de alguém quando
todos os lados estão errados. Imaginem uma criança com uma infância sem
oportunidades vivendo num lugar quase que desértico. Daí, um dia ela presencia
o assassinato de toda sua família por um grupo político, ou um grupo religioso,
ou um grupo de assassinos, cangaceiros ou terroristas. Seja lá o nome que se dê
a estas criaturas desumanas, o fato é que uma criança assistiu a tudo isso e
para ela isso passou a fazer parte de sua vida, tal como uma criança burguesa
assiste ao bullying no seu colégio burguês. Não querendo comparar a gravidade
dos fatos, mas a diferença seria a localidade, uma nasceu no sertão, num
deserto de dar dó, na pobreza, a outra nasceu na mata atlântica do lado das
ondas, na maresia, na riqueza. No entanto, todas as duas são capazes de amar,
de matar, de se posicionar. Difícil mesmo é adotar uma postura ética, se filiar
à um partido confiável ou ficar de um lado da história, quando tudo parece ser uma
grande nuvem de fumaça.
O
trabalho transgressor do artista inglês Bansky, que mantem identidade
desconhecida desde 1990, transita entre o grafite, a crítica social e ativismo
político em stencil de grande escala registrado nas paredes e fachadas das
maiores metrópoles do mundo. O artista cria contextos de cunho social engajado,
sem muito humor, ou com um humor quase sarcástico que leva o espectador a
levantar questões éticas e morais a respeito das falhas humanas e procedimentos
constitucionais da sociedade. Flower Thower (Atirador de Flor) é uma de suas
imagens intrigantes, que ora remete à violência do terrorismo, ora
abraça a causa da paz num ato romântico de altruísmo. O conflito da guerra
armada, ou amada nas obras de Bansky ultrapassa o pragmatismo da arte
contemporânea que se estabelece em galerias de arte, museus ou casas de
leilões. A obra do artista é urbana, para todos, uma arte democrática que
conversa com o público e levanta questões urgentes sobre o nosso modo de vida.
A
imagem é imponente e pode ser atribuída a um espaço atemporal. O atirador de
flores poderia ser um dos Hamas ou um cangaceiro, ou um talibã, ou um xiita, sunita ou tutsi ou hútu.
Um ícone do grafite internacional, as intervenções do
artista inglês validam a ruptura ao protocolo da contemporaneidade e faz
despertar um novo olhar sobre o submundo.
"Há soldados armados, amados, ou não. Quase todos perdidos com armas na mão". Geraldo Vandré
Mural original Beit Sahour, na Palestina, 2020
fonte Wikipedia
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