domingo, 5 de junho de 2022

Arraiá da vida

 "O mundo que nos rodeia está cheio de feitos fantasmagóricos. Cada momento de nossas vidas está tentando nos dizer alguma coisa, mas nós não nos importamos em ouvir esta voz do espírito. Quando estamos sozinhos e quietos estamos com medo de que algo será sussurrado em nossos ouvidos e assim, odiamos a quietude e nos anestesiamos através da sociabilidade". Trecho da página 225 do livro 'Assombrações', de James Hollis, citação de C.G.Jung (1875-1961)

"Todos os problemas do homem vem de sua incapacidade de ficar quieto em uma sala sozinho". Blaise Pascal, matemático francês (1623-1961)

A humanidade tem estudado milhões de formas para o bem estar, a felicidade, a longevidade, a superioridade, mas ainda nem chegamos perto de atingir os 20% da nossa capacidade cerebral para executar ações simples como levitar. Estou brincando, mas estou falando sério. Vivemos ainda como nossos pais, adoramos por os pés na areia da praia, sentir a terra por entre os dedos, plantar florzinhas no jardim, comer a comida caseira da casa da vovó. Adoramos uma festa junina, um arraiá, uma fogueira, um quentão e um cheiro no pé do ouvido pra esquentá!

A  etimologia de Arraial vem do termo medieval proveniente da origem da conjunção do artigo árabe "al" com o qualitativo "raial" que evoluiu para real, ou seja próprio do rei. (Wikipédia)

Criando um trocadilho para uma metáfora do texto, arraial caberia aqui como um sentimento próprio, real de nós mesmos, próprio da nossa realeza, da nossa luz, raiá de sentimentos, arraiá da vida! Um porto seguro, um recanto, um arraial só nosso, para nos sentirmos únicos em nós mesmos, ou não?!

"Segundo Thomas Hobbes (1588-1679) filósofo e teórico político, o estado deveria ser o agente apto a organizar as relações entre o corpo social, uma vez que o homem tem a tendência ao individualismo e apenas vive em comunidade por ser a melhor forma de permanência". (Revista Científica do Arena, 2019)

Somos uma espécie um tanto ambígua e insuportavelmente misteriosa. Regida pelo corpo, mente e espírito, nos dividimos numa tríade sem saber ao certo como equalizar todas estas virtudes e defeitos. Exercitar os músculos, estudar os enigmas do mundo e escutar aquela vozinha que vem do além não é para qualquer um. Ainda que descubram a fonte da juventude e emerjam milhões em reais ou virtuais, ostentados nas redes sociais como troféus de vitória, estamos todos fadados à morte e à vulnerabilidade das intempéries da Natureza. 

Será que levaremos conosco as vozes perdidas ao léu ou as registraremos oral, por escrito ou em atos para que nossos descendentes possam se reiterar de que nem tudo são matérias ou materiais, mas também um raio de sol, um raiar do dia, um arraiá de sonhos. O invisível, um sussurro, um apelo que precede a luz!

Ilustra o texto obra "Quermesse na Festa Junina" (2012), da artista naif Helena Vasconcelos, que participa até dia 30/06 do FIAN (Festival Internacional de Arte Naif) em Guarabira, PB.


Eu e meu arraiá particular na Festa Junina do Colégio Externato São José, em 2015

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Querida obrigada por tão belo texto. Assim é a vida
Precisamos fazer o nosso arraial mesmo q seja do nosso eu interior. Bjs

5 de junho de 2022 às 17:11  
Anonymous Anônimo disse...

Gosto muito de suas crônicas , curto sua forma particular de se expressar . A “Quermesse” da Helena para ilustrar foi perfeita .

5 de junho de 2022 às 18:26  

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