domingo, 12 de junho de 2022

Antes de casar sara

A mitologia africana é tema do espetáculo de dança da companhia de Deborah Colker. Intitulada "Cura", a história é narrada através da voz do neto da coreógrafa, que conta a trajetória do orixá Obaluaê, o deus da cura e da doença.
Obaluaê nasceu com uma enfermidade. Foi tomado por feridas ao longo de todo o seu corpo. Sua mãe, apavorada decidiu abandoná-lo na beira da praia e fugiu. Iemanjá, a rainha do mar achou a criança, a abraçou com a espuma branca e macia das ondas do mar e cuidou do menino. Embora feliz com a mãe adotiva Obaluaê é rejeitado pelos humanos, que temem sua doença. Por causa disso ele se vinga, causando uma trágica epidemia. Para se manter excluso e no anonimato é confeccionada uma vestimenta especial, uma capa de palhas para tampar todo seu rosto e corpo. Um dia os orixás são convidados para uma festa e Obaluaê vai com sua vestimenta e causa grande curiosidade. Ele fica envergonhado em deixar suas feridas à mostra, mas é surpreendido quando tiram de supetão sua capa de palhas. Porém, incrivelmente o que é visto daí não são suas chagas e sim uma intensa e dourada luz que reflete de seu corpo. Assim os orixás o aceitam e ele recebe o dom da cura.
A coreografia do espetáculo é forte, intensa e acrobática como todo trabalho de Colker, mas há algo mais maduro, triste, doído e real, principalmente numa época pós pandêmica. "Cura" conta também a realidade de seu neto de 12 anos que sofre de epidermólise bolhosa. 
Perceber este 'namoro' entre a doença e a cura é um desafio que ainda caminhamos para compreender os mistérios do destino. Passar por dificuldades, enfermidades, tristezas é um sofrimento que tentamos evitar a todo custo. Nos anestesiamos e fingimos nos divertir com o que o mundo comunista nos oferece, mas será que adianta? Só depois de sentir na pele a rejeição, o bullying, a carência e a sofreguidão é que nos tornamos fortes, capazes e prontos para resistir novamente mais um ciclo de desafios que estará por vir.
Obaluaê não teria conquistado sua hierarquia se tivesse nascido com a pele de pêssego. Sua luta e persistência clamaram às forças da Natureza a lhe conceder a benção de que tanto necessitava.
Gratidão à coreógrafa carioca que trouxe um pouco de luz e história africana à nossa 'árida' Capital do Centro-Oeste. Que as feridas do nosso corpo se transformem em energia iluminada neste eterno 'namoro' com a Natureza: de doença e cura, de dor e amor.

Feliz dia dos namorados!

Cenografia no espetáculo "Cura", com alusão à vestimenta do orixá
Brinco "Obaluaê", com cubo low em prata e linha de algodão tingida


1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Show!

12 de junho de 2022 às 09:14  

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