domingo, 20 de fevereiro de 2022

Última lição


“Não se nasce mulher, torna-se mulher” a máxima do pensamento filosófico feminista de Simone de Beauvoir poderia ser usada também para outros atributos, como “Não se nasce artista, torna-se artista” e/ou outras atividades afins.

Certa vez meu pai, sentado à bancada de café como era de costume quando iniciava seus monólogos dissertou sobre o conto do Samurai. A história descreve um discípulo ambicioso, cheio de energia e força que desejava veementemente ser o maior samurai de todos. Mas seus mestres diziam que ele teria de subir as montanhas, encontrar num mosteiro o maior e inigualável dos mestres e derrota-lo numa batalha, porém teria de tomar algumas de suas lições para que estivesse realmente apto a fazê-lo. O discípulo tomou o seu caminho e foi em busca de seu objetivo. Quando lá chegou, encontrou o grande samurai tranquilamente cuidando de seu jardim e suas flores. O discípulo pediu que lhe ensinasse sua última lição para que enfim, pudesse enfrenta-lo para conseguir o título de maior samurai. O mestre ergueu sua espada e com gesto simples lhe mostrou um golpe básico. Frustrado o discípulo resmungou que este era o primeiro dos golpes que aprendera e não havia sentido treiná-lo mais uma vez. Foi daí que o grande mestre, com o mesmo gesto jogou no ar uma de suas flores e num certeiro golpe dividiu seu talo simetricamente ao meio. Surpreendido por sua destreza e rapidez, admitiu a derrota, mas teve de lhe perguntar o segredo para tamanha habilidade. Foi quando o grande mestre lhe deu a última lição: “A repetição leva à perfeição”.

Esse contou sempre ficou na minha cabeça por tê-lo também escutado diversas vezes nos treinos da Capoeira, em versões mais tupiniquins ou em provérbios tântricos e ritos religiosos. Trago o tema aqui porque recentemente algumas pessoas me indagam sempre, “nossa, Tati, você só faz cubinho?” Pois é, cada um faz o que sabe e nos repetindo a cada dia, talvez chegaremos à alguma perfeição, embora eu ainda acho que as imperfeições tem lá os seus charmes.

Não sou alguém tão especial que tenha estudado na Itália e feito mil cursos para aprender a ter criatividade enfiando parafusos na orelha ou cadeados no pescoço, simplesmente nasci dentro de uma Galeria de Arte no Centro-Oeste. Minha avó materna morava na fazenda, tenho uma origem sertaneja atípica que escutava Chico Buarque, Roberto Carlos, ABBA, INXS, Talking Heads e Tião Carreiro. Minha avó paterna era nômade e se alojava nas cozinhas alheias para preparar as melhores polentas do mundo. Aprendi no meu universo quadrado, que não se nasce alguém, torna-se alguém e estou tentando ser o meu alguém neste mundo tão quadrado. Foi a forma que vi e me encontrei para achar uma quarta dimensão ou um hipercubo!

Agradeço a todos que guardam seus dois preciosos minutinhos para lerem essas minhas mal traçadas linhas, pois é aqui que me atenho em desabafar o que sinto, o que penso, o que sou! Repito todos os domingos este ritual, vai que um dia ele se aperfeiçoa, não é!


Brinco Cubos 3 em 1

1 Comentários:

Blogger Unknown disse...

👏🏿👏🏽👏🏽👏🏾👏🏻👏🏻🌺

20 de fevereiro de 2022 às 13:34  

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