domingo, 19 de setembro de 2021

Suzana

Minha vó materna se chama Suzana.

Ela é do signo de escorpião.

É mãe de 5 filhas(o): Marúcia, Marina, Márcia, Débora e Custódio Júnior.

Dona Suzana foi dona de casa por toda vida.

Gostava de uma jogatina e embaralhava cartas como ninguém.

Era sagrado tomar seu café da tarde fervente e bastante adoçado.

Pintava e bordava para adornarmos nossas bonecas com belos vestidinhos.

Foi daí que eu vi, pela primeira vez, uma caixa de costura.

Linhas, novelos, carretéis, botões, retalhos... Muitos retalhos que ela usava para confeccionar as roupinhas dos personagens que estampavam suas pinturas naifs. Eram saias, ceroulas, calças, botas, balões, pipas, fogueiras e até lona de circo. Bordava almofadas, panos de prato, forros de mesa e calendários em patchwork. Lindos!

Dona Suzana foi uma senhora vó, sem esquecer de contar seus gatos, que sempre foram companhia mais afetuosa que os cachorros, principalmente Rosinha, a matriarca de toda uma geração de felinos.

Entre a sujeira orgânica da fazenda, seus afazeres domésticos, seu fumo de rolo, sua vida simples e suada, vovó compartilhou momentos à beira do fogão à lenha, no doce café com leite que tomávamos no curral, na mesa de carteado, no altar para todos os santos, no cavalete manchado de tinta e na sua imortal máquina de costura. 

Sua vida colorida foi cheia de laços de fitas para suas filhas, para suas obras, para suas netas. 

Desde a feitura da pamonha em luminosos tachos de cobre ao barro do casebre de pau à pique, os novelos dourados em abundância e a escassez de preciosos fios de ouro, da forma bruta à fornada de roscas assadas na hora, vamos aprendendo com os nossos antepassados à preservar costumes e valorizar nossas origens. É a síntese do provébio da rapadura: doce e dura realidade da vida! O rústico e o contemporâneo! De mães para filhas, de avós para netas, de mulheres para meninas, num sagrado ciclo feminino.

Ilustra o texto Calendário bordado por Suzana de Abreu e Pingente Hipercubo, em latão banhado e fios coloridos de lã.



Dona Suzana e eu na mostra "Nosotros - a arte e o corpo humano" (2017)


0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial