domingo, 18 de julho de 2021

Vermelho é a cor mais forte

 A mostra "Linhas da Vida" da artista japonesa radicada em Berlim, Chiharu Shiota percorreu os CCBB's das principais capitais do país e finalizou sua itinerância em Brasilia no mês de dezembro do ano passado. Por causa da pandemia e por minha sorte, a mostra foi prorrogada e consegui visitá-la em sua última semana, tal qual o ditado: "no último minuto do segundo tempo" e que golaço! A exposição reuniu 70 obras da artista, sendo que em sua maioria sites specifics, obras que são realizadas nos espaços das galerias como suas instalações de linhas intermináveis que alinhavam chaves, barcos, papeis, vestidos e tudo mais que remete às memórias afetivas e aos vínculos sociais.

"A artista evoca uma lenda japonesa que quando uma criança nasce, um fio vermelho é amarrado em seu dedo, representando a extensão de suas veias sanguíneas que correm do coração até o menor dedo de suas mãos. Ao longo da vida esse fio invisível se entrelaça ao fio de outra pessoa, conectando uma à outra, de alguma forma que impactará profundamente seus caminhos. A instalação, Linha Interna (2019) (foto I) também alude a concepção de uma presença física, de um corpo que acumula memórias, representado por meio de vestidos vermelhos que simbolizam a segunda pele, independente de nacionalidade ou cor, que nos acompanha em nossa vida torna-se o acumulo das memórias coletadas diariamente". (Curadora Tereza Arruda)

"A cor do fogo e do sangue, o vermelho é a mais importante das cores para muitos povos, por ser a mais intimamente ligada ao princípio da vida. As contraditórias características físicas do vermelho deram origem a bivalência de imagens inspiradas por elas, surgindo entre os alquimistas a ideia simbólica de dois vermelhos, um noturno, fêmea possuindo um poder de atração centrípeta e outro diurno, macho, centrífuga". (Israel Pedrosa)

O princípio da vida e o fim dela, a morte são temas constantes na obra de Shiota. A relação temática se inicia com as instalações em linhas vermelhas e termina com as linhas pretas, que alinhavam barcos suspensos no ar, "Dois barcos, uma direção" (2020) (foto II), onde a direção sempre nos parece ser a da zona de conforto, mas nem sempre devemos navegar por ela. A ideia é mudar de perspectiva, assim como para a visualizar os barcos, é preciso mudar de lugar para enxergá-los por inteiro.

A mostra "Linhas da Vida" foi um poema visual inspirador. O cordão umbilical é o símbolo mais forte e visceral do início da vida e a vida começa com sangue, com fios afetivos sendo conectados desde o primeiro toque, o primeiro abraço de mãe. A verdade é que a vida sempre está por um fio e outros vários entrelaçados à outras vidas e isso é literalmente poético! 

Ilustra o texto Brinco Vermelho é a cor mais forte, em linhas de algodão e cubos de latão. (foto III)





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