quarta-feira, 19 de março de 2014

O artista da alma


O artista da alma


“Tanto riso, oh tanta alegria
Mais de mil palhaços no salão.
Arlequim está chorando pelo amor da Colombina
No meio da multidão.” (Zé Keti)

Pagliàccio, do italiano, palhaço, nome do tipo cômico do teatro tradicional. O personagem tinha esse nome por se vestir com roupa bizarra, feita com o mesmo tecido listrado dos colchões de palha (paglia, em italiano). Há vertentes de que este personagem exista a milênios antes de Cristo, quando os atores gregos pintavam o rosto todo de branco e de preto, os olhos e a boca, para realçar mais as expressões faciais, como alegria e tristeza. Existem ainda relatos de que os palhaços, na Antiguidade, eram bobos da corte, que divertiam a realeza com suas fanfarrices.
Famoso pela arte de fazer rir, o palhaço não só interpreta um personagem cômico, como também é um ator múltiplo. Entre malabarismos, acrobacias, adestramento de animais e instrumentista, ele se multiplica para cumprir todas essas funções e, por fim, exercer a sua. Tanto dom para alegrar, ele o também tem para fazer chorar, seja pelo jeito carente e imprevisível, ou pela mórbida e obscura maquiagem. Sim, ele é um legítimo ser humano! Vaga entre a poesia e a realidade, “(...), se mostrando feio e belo, revelando esse caráter próprio do ser humano, que é ser plural!”
A frase é do ator e diretor, Selton Melo em depoimento no making of do seu longa, O Palhaço, de 2011. Numa comovente história sobre a relação entre pai e filho, Melo representa este personagem com alma e grande sensibilidade. O desenhista mineiro e fera em stop motion, Conrado Almada foi o encarregado pela parte de animação, onde retratou todo elenco, inclusive os protagonistas Pangaré (Selton Melo) e Manga Larga (Paulo José).
O registro do artista e fotógrafo goiano, Vinícius de Castro (in memoriam), transita por entre as adversidades do carnaval contemporâneo.  Utilizando a fotografia como suporte artístico, a imagem revela entre confetes, serpentinas, piercings, um charuto na boca e uma garrafa na mão, não obstante um olhar de ira ou dor.  
O artista e grafiteiro goiano, WÉS também tem sua versão. Tanto em grafites, quanto nos desenhos em nanquim, este personagem está presente em grande parte de sua produção artística. Abusando de temas regionalistas e do folclore, seu trabalho traz a grotesca situação brasileira à tona: Preciso ser? Ser palhaço? Também revela seu gosto pelo personagem e desabafa:É o cara que pinta a cara conforme a situação”.
O palhaço não faz nada mais que parodiar a natureza do ser humano. Andar na corda bamba, ridicularizar ou rir do próximo ou de si mesmo, tentar tirar vantagem de tudo ou quase tudo, ou simplesmente pensar, agir e brincar como uma criança. Assim vaga a alma deste ser plural, contagiando a alegria e despertando um misterioso carisma e certo grau de rejeição! Salve, salve a imperfeição!

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