segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Uma carta oara Leo


Revista DiCasa Dez 2014


 

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A fotografia na construção da imagem da nação

Expert em história da fotografia, o paulista Boris Kossoy é um pesquisador incansável e comprovou nos anos de 1976 a efetiva ocorrência de experiências fotográficas percussoras nas Américas, por Hercules Florence ( 1804 -1879), no Brasil e contemporâneas como as realizadas por Louis Jacques Daguerré (1781 - 1851), na França e por Willian Henry Talbot (1800 - 1877), na Inglaterra. Dentre um extenso currículo bibliográfico sobre o assunto Kossoy coordenou e concebeu, no ano de 2012, com direção da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz o livro Um olhar sobre o Brasil, A fotografia na construção da imagem da nação 1833 - 2003. Num minucioso estudo e curadoria de fotografias de 170 anos de Brasil, a dupla sintetiza momentos memoráveis com imagens arrebatadoras do nosso país. Descrevo aqui uma das reflexões do autor quanto às impressões da nossa baixo auto-estima e um ranço histórico deixado por nossos colonizadores:
                "É fundamental analisarmos criticamente os processos históricos de dentro para fora, estabelecendo assim os necessários contrapontos em relação à visões míopes  em relação às 'realidades tropicais', não raro preconceituosas comumente motivadas pela expectativa do exótico e, como parte do mesmo processo, pela ânsia de 'documentar' o exotismo nessas terras. Extremamente negativo foi o efeito do mencionado exotismo ter incorporado em si uma mentalidade racista algo que comprova pela representação do outro teatralizado pelos pincéis e lentes europeus."
                Kossoy conceitua seu projeto em duas partes: Regência e Segundo Reinado (1831-1889) e República (1889-2003), sendo esta subdividida em décadas de marcos históricos sócio-políticos e culturais. Dos fotógrafos de importância internacional e nacional que estão presentes no livro, cito aqui apenas alguns: Victor Frond, Albert Frisch, Marc Ferrez, Félix Nadar, Augusto Riedel, Vincenzo Pastore, Pierre Verger, Miguel do Rio Branco, Mario Cravo Neto, Orlando Brito, Sebastião Salgado, Araquém Alcântara, além do próprio Boris Kossoy. Seu critério de seleção passou por um crivo crítico sobre a formação da sociedade brasileira através da fotografia prevalecendo dezenas de imagens antigas produzidas em estúdio, algumas de importantes datas comemorativas, outras de manifestações políticas, assim como panorâmicas e paisagens urbanas ou naturais. Seu recorte temporal auxilia a nossa percepção sobre o início do progresso urbanístico do país aos contrastes étnicos, das intempéries políticas à retomada da luz.
                Sem dúvida, um livro de imagens para se pensar a história do Brasil, a nossa história, os nossos antepassados. É como abrir um álbum de família ou relembrar momentos homéricos da nossa infância, adolescência e, atualmente, da vida adulta. São imagens como a do piloto Ayrton Senna erguendo a taça no Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, em 1991, pelo fotógrafo Jorge Araújo, que ascende em nós a chama de uma auto-estima que quer brilhar. A Agência Autônoma de Filatelia e Numinástica do Governo de San Marino, na Itália lançou este ano, uma moeda especial de 5 euros com a imagem deste ícone mundial. Uma  homenagem européia aos 20 anos da morte do brasileiro.
                É, Boris, ainda temos muito o que construir nesta nossa nação!?

                 

A excelência em arte e paisagismo


                O palácio de Versalhes tem fama consolidada pela sua exuberante arquitetura e decoração, como também pelo paisagismo e avançada engenharia hidráulica de suas fontes e espelhos d’água. A devoção e ousadia dos “artistas-jardineiros”, como o queridinho do rei Luiz XIV, André Le Nôtre (arquiteto, paisagista, urbanista e colecionador de arte), que se dedicou durante anos, exclusivamente às podas e sofisticação dos labirintos geométricos em uma incansável busca pela perfeição obteve, ao longo dos tempos, grande sucesso e reconhecimento mundial. A herança deste talento com a natureza é um legado francês transferido para o Festival Internacional de Jardins, em Chaumont-sur-Loire, à 200 km de Paris. O castelo, que foi antiga propriedade da Rainha Maria de Médicis e, atualmente nomeado pela Unesco Patrimônio Mundial da Humanidade, desde 1992 é uma galeria  à céu aberto e ainda abriga obras de arte de renomes internacionais, no interior de seus cômodos. Dentre elas está "Momento Fecundo", do brasileiro Henrique Oliveira.
                Outra grande presença da arte contemporânea internacional, no jardim do castelo francês é o artista italiano, Giuseppe Penone, famoso por suas intervenções na paisagem e em ter seus trabalhos transformados pela vegetação. Criou, para a comemoração dos 400 anos de Le Nôtre, 23 esculturas que foram espalhadas nos jardins de Versalhes, ao longo do eixo do Grande Canal.  Penone também está presente na maior galeria de arte à céu aberto da América Latina, o Instituto Inhotim. Sua obra "Elevazione", parte da modelagem e conseguinte fundição em bronze de uma castanheira centenária, à qual outras partes de árvore foram soldadas. A grande árvore de metal está presa ao chão por pés de aço e, plantadas ao seu lado, estão cinco outras árvores que, ao longo dos anos, irão crescer e se aproximar da escultura, como se a sustentassem e criassem um espaço arquitetônico para abrigá-la. Um diálogo constante de transformação entre arte e natureza.
                Idealizado por Bernardo Paz e projetado pelo paisagista Roberto Burle Marx, o Instituto Inhotim é um verdadeiro parque botânico e artístico, com programas e oficinas que beneficiam a pesquisa multidisciplinar entre música, dança, artes plásticas, jardinagem, botânica, artes cênicas, agronomia e muito mais. Com galerias de arte espalhadas pelos mais de 8 hectares de jardins, as esculturas em madeiras ou bancos, do gaúcho Hugo França são outro espetáculo à parte. Esculpidas a partir de resíduos florestais, França cria verdadeiras obras de arte ou de design. Sim, elas servem para um repouso! E ele ainda tem uma produção de móveis residenciais! Sorte nossa!
                O fascínio que temos ao nos depararmos com a natureza em perfeita harmonia com a criação artística, seja pelo paisagismo, seja pela intervenção de uma obra de arte é simplesmente gratificante. A sensação é de estarmos num conto de fadas, no país das maravilhas, na casa de Edward mãos de tesoura (como bem intitulou a revista Casa Vogue, do mês de setembro) é inspirador.
                Neste mesmo mês participei do Earq 2014, evento de arquitetura e design realizado no Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiânia, que teve como objetivo um circuito intenso de palestras. No último dia assisti à fala do paisagista Gilberto Elkis, que explanou em imagens de alguns de seus trabalhos, a arte e a delícia de trabalhar diretamente com a natureza. A ciência e a delicadeza de esculpir a planta, encaminhar o curso da água e desenhar o caminho das pedras.
                A excelência de integrar a vegetação ideal para cada ambiente e realizar um sonho verde no quintal, na varanda ou no “puxadinho” está no compromisso com a dedicação, o respeito e o uso consciente dos recursos que a natureza oferece.
                Os jardins verticais ou de Monet, as pontes sobre espelhos d'água, as quedas d’água ou fontes, as hortas mandalas, o húmus, os cascalhos, seixos rolados, cascas de eucalipto, bambus, tocos, tijolos, garrafas pets, britas, pneus, engradados, sapatos velhos, tudo são recursos para se criar e imaginar um universo de verdes possibilidades. Os artistas, designers, arquitetos, paisagistas, jardineiros também são cientistas, médicos, curandeiros. Nada melhor para alma que ter um lugar de paz, para ser feliz, para se sentir mais humano, mais natural, mais vivo!
                Paisagismo e arte juntos são imprescindíveis para um inesquecível casamento com a natureza.

                Faço votos que se perpetuem!

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Um velhinho muito maluquinho




Um velhinho muito maluquinho

              
  No mês de abril deste ano assisti pelo canal Arte 1 um documentário sobre a trajetória artística do ilustrador norte-americano, Norman Rockwell (1894-1978) e percebi sua notável contribuição cultural e social para com o país e o mundo.
                Rockwell desenhou toda sua vida sendo um homem generoso e desapegado, ainda porque perdeu muitos trabalhos importantes depois de um grande incêndio em sua residência. Atualmente suas obras são vendidas à valores significativos e disputados por colecionadores e celebridades.
                Mas foi a tela The Connoisseur (1962), cujo tema retratava um conhecedor de arte perplexo diante de uma pintura de Jackson Pollock (1912-1956), que chamou a atenção ao me recordar de um outro grande ilustrador, porém brasileiro e ainda vivo: Ziraldo.
                O mineiro, que lançou o livro Zeróis pela FTD, em 2012 reúne os principais super heróis das Histórias em Quadrinhos aos grande pintores da História da Arte como Goya, Velásquez, Picasso, Dalí, Grant Wood e outros.
                Antes disso visitei a mostra Zeróis: Ziraldo na Tela Grande, no CCBB-RJ, em 2010 e fiquei impressionada com a qualidade plástica do trabalho somada ao seu sarcástico senso de humor. Numa de suas telas retrata o super herói Capitão América, "O connoisseur das HQ's", segundo ele, perplexo diante de uma obra de Roy Lichtenstein (1923-1997). A paródia visual com a obra do ilustrador Rockwell é simplesmente uma sátira ou uma suspeita homenagem à cultura norte-americana.
                 Um outro exemplo é a obra Wonder Woman Warhol, onde trabalha a produção em série como o artista pop Andy Warhol (1928-1987), mas substitui a maravilhosa Marylin Monroe pela imagem da heroína de mesmo adjetivo.
                Ziraldo não só esmiúça o domínio cultural que os norte-americanos exercem sobre o mundo como traz à tona ícones da arte numa visão bem humorada e bastante crítica sobre a sociedade e seus valores. Principalmente na tela do Superafrodescendente, onde deixa claro de quais valores se refere quando dá cor negra à pele do imbatível herói Super Homem e brinca com sua nacionalidade.
                 "Exemplo de síntese e originalidade o nome Zeróis já encena por si só todo propósito do seu criador: Zero, Heróis, Ziraldo", assim define Gessy de Sales o neologismo do título, resultado divertido do encontro entre famosos personagens das histórias dos homens, ora heróis, ora artistas.
                Como um eterno menino brincando de desenhar, hoje aos 81 anos de idade, posso dizer com todo respeito e admiração, que este velhinho será sempre muito, muito maluquinho mesmo! Viva, Ziraldo! Salve, Brazil!

terça-feira, 10 de junho de 2014

Joias Brasileiras



Se  um dia me perguntassem quem foi o primeiro designer de joias do mundo, eu diria: os homens das cavernas.
            O ser humano tem a fantástica capacidade de desenvolver estratégias de sobrevivência que lhe facilitam e proporcionam prazer consciente ou instintivo.  Ao fazer uso de dentes, ossos, presas, conchas, couro, pêlos, pedras e outros elementos achados ou adquiridos na natureza, ele os transformam em patuás, ornamentos de beleza, objeto de matrimônio, troféus de caça ou exibição de status à sua comunidade. Seja numa cerimônia aos Deuses, seja num baile imperial, a ornamentação corporal sempre esteve presente na humanidade.
            Tentando traçar um breve histórico da joalheria, a perita judicial em design de joias, Eliana Gola descreve o quão  importante é delimitar o que é joia e tentar defini-la. No livro The art and craft of jewellery, de Janet Fitch, na introdução sobre o tema fica clara essa definição, onde cita que "a história convencional da joalheria é narrada a partir do ouro, prata e pedras preciosas, numa sucessão de colares, cetros, coroas e tiaras fabricadas para reis e rainhas. Porém existe outra, uma história paralela sobre antigos objetos decorativos de amplos grupos espalhados pelo mundo à fora. Nação, costume, etnia e joalheria de design moderno são partes desta história alternativa, onde o ornamento não obedecia regras."
            Assim como hoje existem designers que utilizam materiais alternativos em suas peças, antigamente os primatas já o faziam. Quando digo, materiais alternativos me refiro à algo que saia do padrão tradicional da joalheria como as pedras não polidas, pele, chifres, cerâmicas, penas, fibras, madeira, etc. Ao investigarmos a cultura dos povos da antiguidade, seus adornos, adereços de adoração, emblemas e significados nos surpreendemos com a qualidade e ousadia de criação de nossos antepassados.
            Tal qual uma joia de metal precioso, a arte plumária dos indígenas brasileiros, com sua minuciosa confecção manual, exuberância estética entre cores e equilíbrio simétrico, assim como a raridade das espécies capturadas (visto que atualmente a fauna e flora regram por grande proteção ambiental) possui altíssimo valor de mercado. "Se compararmos a arte européia e a arte indígena, veremos que, se na Europa começava o interesse pela botânica e floricultura, manifesto na joalheria, os índios brasileiros sempre a tiveram como inspiração." Eliana Gola também classifica valiosa a diversidade e excelência de pinturas corporais de algumas tribos, contando que elas também fazem parte do ornamento físico e tem grande importância simbólica para os rituais.
            A partir da descoberta do ouro no Brasil, no século XVII, principalmente em Minas Gerais a corrida pelo metal faz antecipar uma popularidade internacional, resultando no que Gilberto Freyre descreveria de "caldeirão cultural". Os ourives, que antes vinham de Portugal, agora eram os ditos "impuros", mestiços, ou brasileiros que se dedicavam à profissão utilizando técnicas e sabedoria de seus antepassados. Misturando uma série de materiais alternativos como contas de castanhas, pau-brasil, ossos ou presas de animais nativos, dá-se aí o início de uma identidade nacional, baseada nas crendices populares, miscigenação, elementos resgatados na natureza e motivos da brasilidade.
            Assim como os indígenas, os africanos ou a realeza européia, a corte brasileira também desfilava seu status e poder nas festas através de suas joias e pedras preciosas, mas com um pequeno detalhe, suas escravas também tinham de usá-las. As conhecidas joias de crioulas eram confeccionadas exclusivamente para essas escravas. São assim chamadas porque eram criadas dentro do ambiente da nobreza, isto é, dentro da casa-grande e não na senzala. As amas de leite, ou afilhadas, até mesmo as amantes dos senhores possuíam suas próprias joias. Atualmente, seria como possuir um carro de luxo e o exibir à sociedade, quanto mais riqueza tivesse mais joias se adornaria a crioula.
            Com o passar do tempo e o enfraquecimento da política de escravidão as próprias escravas compravam sua alforria com suas joias. Os adornos englobavam uma mistura de temas da joalheria portuguesa com a africana, fortemente manifestada por motivos religiosos ou profanos. São conhecidas as peças que incluem ébano, búzios, piaçaba, corais, marfins e cristais. Laura Cunha editou um livro de imagens e história das Joias de Crioula, onde fez uma maravilhosa seleção de peças, principalmente dos famosos balangandãs. Num conjunto harmônico de pingentes, o balangandã era peça fundamental na ornamentação da crioula. Cada pingente tinha seu significado, sua simbologia litúrgica ou sua função de proteção. Também eram peças barulhentas, visto que presas aos tornozelos ou cinturas informavam o local exato das escravas.
            A história da joalheria brasileira ainda é pouco explorada, porém muito valiosa. Não por acaso, um dos raros mantos tupinambás está num museu da Dinamarca. Peças em cerâmica, de índios Carajás ou marajoaras, cocares elaborados com espécies de pássaros já extintos, ou estão nas mãos de meticulosos colecionadores ou em instituições estrangeiras. Nosso legado como designers é o de acrescentar às gerações próximas a nossa verdadeira herança cultural. Seja pelo desenvolvimento de novas técnicas, seja no resgate de nossas raízes. Façamos assim um inesquecível casamento entre o passado e o futuro!

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Editorial Inesquecível Casamento

Lindo registro para editorial da Revista Inesquecível Casamento GO, com parcerias que também são inesquecíveis e muito talentosas:
Meu amigo da produção: Marcus Ferreira Campos
Fotografia: Mais Foto
Make: Evando Filho
Modelo: Amanda
Colar de arame com renda, filó e contas de pérolas

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Bahia de todos os dons











 
Bahia de todos os dons!

            "Não existe tela branca nos trópicos. É como se tudo fosse atravessado pela cor."
            A frase é do artista paulista Luiz Zerbini, em entrevista à Folha de SP ," que viu isso com clareza numa viagem com as filhas para o sul da Bahia. Sua idéia era criar ali um diário do que acontecia, mas ficou tão estarrecido ao ver os tons da paisagem e dos bichos, que nada escreveu."
            O deslumbramento de Zerbini faz jus à região. Um lugar esculpido pela natureza e nos presenteado como uma obra de arte viva e pulsante. Foi berço caloroso para diversas manifestações populares dentre elas a capoeira, o afoxé, o acarajé e o candomblé.
            Nos dons das palavras são célebres poetas e escritores da literatura brasileira Gregório de Mattos, Castro Alves e Jorge Amado.
            Nos dons dos sons, a Bahia foi "progenitora" do Tropicalismo, movimento cultural que mais se intensificou na música reafirmando o talento dos jovens baianos Gilberto Gil, Caetano Veloso e Tom Zé.
            Nos dons das artes visuais foram pioneiros na renovação das artes plásticas baiana os filhos de orixás e desbravadores dos emblemas da religiosidade yorubá, Rubem Valentim, Mario Cravo Júnior e Carlos Bastos. O artista baiano, Deoscóredes Maximiliano dos Santos, o Mestre Didi foi além da bidimensão e convenções estruturais. Concebeu esculturas-objetos ou artefatos de adoração num entrelaçado de varas de bambu ornamentados com búzios e outros aviamentos da brasilidade. Talvez, por uma ironia do destino,  foi pelos tons do artista argentino Hector Julio Páride Bernabó, apelidado como Carybé (do tupi, pequeno peixe amazônico) que mais se difundiu visualmente a cultura baiana, no Brasil e no exterior. Carybé dedicou toda sua produção artística nos temas da baianidade e recebeu título de Doutor Causa Honoris pela Universidade Federal da Bahia. Me foi dito ainda, pelos arredores do MAM/BA, em Salvador, que o concederam a cidadania baiana em gratidão à sua incansável pesquisa cultural. O contemporâneo, Marepe, Marcos Reis Peixoto desenvolve sua pesquisa no mote dos objetos do cotidiano e, a relevância de sua obra é tanta, que o Instituto Inhotim abriga em seu acervo pelo menos cinco delas.
            Descrever toda essa energia de dons da terra da alegria é um desafio, mas a Bahia deu sua graça na presença feminina e caracterizou a cultura do país no estrangeiro. A  pequena notável, Carmem Miranda com sua euforia contagiante, seus exagerados adornos, fitas, laços, frutas e toda sorte de apetrechos encantou, cantou e contou pro mundo "o que é que a baiana tem."
            Cito também, por conhecimento pessoal, a fantástica companhia de dança contemporânea baiana, a Dance Brazil Foundation. Encabeçada por Jelon Vieira, as coreografias interagem balé clássico, movimentos da capoeira e danças folclóricas, no entanto restringem suas apresentações à Salvador e Nova Iorque.
            Encontramos mais arte e talento nos roteiros dos longas, Cidade Baixa e Ó, Pai, Ó!, estreados pelos baianos Wagner Moura e Lázaro Ramos, onde a realidade brasileira demonstrada é ora atônita e cruel, ora bela e feliz.    
            Assim vem se formando um povo de muitos dons inspirados pela natureza e guiados pela fé. Axé, Oxalá, Saravá!                                                                                           
                                                                                                                                TATIANA POTRICH

Editorial para o Dia do Índio

Experiência única o projeto para o Dia do Índio.
Pessoas queridas, dia ensolarado, natureza deslumbrante!
Aqui regram Lian Tai, eu, Eliane de Castro (fotografia) e Gisela (produção).


terça-feira, 15 de abril de 2014

19 de Abril - Dia do Índio


segunda-feira, 24 de março de 2014

Joias, Champagne e Luxo para todos

 



JÓIAS, CHAMPAGNE E LUXO PARA TODOS

O maior concurso de jóias do mundo realizado pela AngloGold Ashanti promoveu, em 2006, uma videoconferência com transmissão para mais de oito capitais  do país, onde estive presente, em Brasília. A videoconferência foi ministrada por várias entidades, dentre elas o presidente da mineradora e a dupla de designers brasileiros Humberto e Fernando Campana. A palestra se deu entre imagens avassaladoras do Brasil como o Carnaval, as favelas, os aterros sanitários, o artesanato popular e os camelódromos, as praias e as mulheres, a biodiversidade e finalmente as contradições sociais de um país tão grande e diversificado. O objetivo foi instigar o grupo de ouvintes a uma investigação minuciosa de nossas origens e a capacidade de organização das imagens e idéias à pesquisa do produto final, isto é a jóia conceitual. Este foi meu primeiro encontro indireto com a dupla, que esplendorosamente nos deixou uma mensagem muito sincera, o inusitado se encontra nas coisas mais simples.

No ano de 2010 finalmente os conheci pessoalmente no lançamento do livro Complete Works Campana Brothers (so far), numa loja de decorações em Goiânia. A mostra de design trouxe alguns dos mobiliários da dupla, como a linha de cadeiras Sushi e, claro a presença dos designers para a noite de autógrafos. Simpáticos e pacientes, Fernando e Humberto curtiram a tietagem goiana e nos contemplaram num encontro com a magnitude do design brasileiro que foi e é reconhecido e premiado mundialmente. Desde o mais experiente profissional ao mais curioso e inocente convidado, as formas, cores e materiais atraíram os olhares e atenções, isso porque suas obras transcendem as fronteiras entre arte e design. Eles ignoram todas as convenções do design tradicional, brincam com a noção de funcionalidade e formam seus objetos poéticos a partir de realidades contraditórias.

Humberto queria ser índio. Fernando astronauta. Os irmãos faziam os próprios brinquedos desde crianças e a infância no campo foi determinante em seu trabalho. Conta Humberto, em entrevista à Revista Casa Claudia que, “... a gente queria fazer uma fusão entre caipira e urbano (...). Vivemos num país naif, caótico, colorido e, logo percebemos que teríamos que trabalhar com a imperfeição.”

Uma dessas imperfeições foi parar no Hotel Du Marc, na França. “La Gloriette” dos Campana foi feita sob medida para a Veuve Clicquot. Nos antigos palácios europeus, desde o século XII e hoje, em espaços que possuem áreas para jardinagem, a edificação gloriette (gloire do francês que significa pequeno cômodo) é muito apreciada por moradores e visitantes. Situada em local alto de destaque a obra é um misto de técnicas arrojadas e do romantismo do século XIX, num moderno gazebo que simula o crescimento das vinhas. Sua cor faz alusão às folhagens dos vinhedos e principalmente ao rótulo do champagne mais desejado do mundo.

O luxo de suas criações vai além do mobiliário. Os Campana em parceria com a joalheria H.Stern criaram uma coleção formidavelmente criativa e inusitada. Movimentos, articulações e originalidade são um dos adjetivos das jóias que mais se parecem obras de arte. Inspirado nas madeirites, nos papelões de embalagem, tubos plásticos, cordas, ralos, casulos e texturas orgânicas a dupla nos surpreendem quando integra o rústico à técnica da ourivesaria. Roberto Stern, em prefácio do catálogo Campana descreve: “São ousadas, uma ruptura com o tradicional e um passo adiante em tudo que é feito atualmente em joalheria. O resultado foi registrado neste catálogo pelo olho mágico do fotógrafo suíço Michel Comte. Ninguém mais sensível do que ele, que divide seu tempo entre fotos de celebridades e de guerras, para interpretar um trabalho nascido de contrastes.”

Mas não só os nobres têm acesso aos produtos Campana. A marca Melissa lançou uma linha de sapatilhas e bolsas assinadas pela dupla. Também foram convidados pela grife francesa Lacoste para inventar, brincar e adestrar seus lindos jacarezinhos. É verdade que algumas peças tiveram edições super limitadas, contudo os designers também formataram suas embalagens exclusivas, em palha e lona.

Em comemoração aos 150 anos do Grupo Monte-Carlo SBM, a dupla abriu a mostra Dangerous Luxury que foi até o dia 20 de julho deste ano, no Salão Sporting d’Hiver, em Mônaco, onde interrogou o público acerca do conceito do luxo e sobre como um objeto popular ou do cotidiano pode se transformar em objeto de luxo. 

Simples e sensíveis estes sonhadores transformam o lixo em luxo, o rústico em sofisticado, o artesanal em larga escala. Adeptos à sustentabilidade e trabalhando pela “humanização do design”, tem como prioridade o respeito ao meio ambiente e a natureza. Carinhosamente relembram a infância na cidade de Brotas, em São Paulo e guardam lembranças de histórias e feitos, como a primeira casa na árvore. Enquanto Humberto cria seus objetos como um artesão e artista autodidata, Fernando participa como um arquiteto experiente. Uma união perfeita entre familiaridade e  profissionalismo. Um casamento que realmente nos enchem os olhos e a alma! Vida longa ao talento desta dupla brasileira!

TATIANA POTRICH